Há décadas que a Formula 1 lidera o mundo do desporto automóvel. Neste ambiente altamente competitivo, a liderança das equipas é determinante para o sucesso. Durante trinta anos, Mark Gallagher destacou-se como gestor de topo em equipas de sucesso.
Por: Filipe Vaz
Líder (L): Qual foi a sua primeira experiência como líder?
Marg Gallagher (MG): A minha primeira experiência foi quando criei a agência de comunicação da Fórmula 1 nos anos oitenta e a vi crescer muito rapidamente. Aprendi que para conseguirmos o máximo das pessoas é necessário um vasto leque de competências e que construir uma boa equipa não é um trabalho momentâneo.
(L): O que o fez interessar-se pelo mundo do desporto automóvel?
(MG): Não tenho a certeza! Sei que quando tinha sete ou oito anos vi uma corrida de Fórmula 1 na televisão, a preto e branco (!) claro, e também que o meu pai me comprou alguns livros sobre corridas de que eu gostei muito. Mais tarde descobri que ele costumava ir às corridas mais importantes nos anos cinquenta, portanto acho que o amor pelas corridas esteve sempre nos meus genes.
(L): Que funções desempenhou em equipas de competição?
(MG): Estive no quadro de gestão da equipa Jordan Grand Prix Formula 1 e fizemo-la crescer desde start-up até extremamente bem-sucedida, tanto em termos de resultados como de desempenho do negócio. A minha responsabilidade era marketing patrocínios e comunicação, e sem dúvida que alcançámos um destaque significativo na Fórmula 1. Depois desempenhei funções semelhantes na Red Bull Racing que era um projeto muito excitante para se integrar, após o que criei a minha própria equipa de competição que teve muito sucesso ganhando inclusivamente um campeonato do mundo. Cada projeto era muito exigente, mas com essas grandes exigências vem enorme satisfação quando atingimos os nossos objetivos.
(L): O que o fez entrar no mundo da fórmula 1?
(MG): É o pináculo do mundo do desporto automóvel, portanto, se se quer ser o melhor neste campo, a Fórmula 1 é onde se deve estar.
(L): Ao nível pessoal, qual foi a sua experiência mais enriquecedora em equipas de fórmula 1?
(MG): Interagir com os fãs. No limite, eles são os clientes, a razão pela qual as empresas patrocinam a Fórmula 1, ou as organizações de media lhe dão tanta cobertura, é devido aos fãs e à sua popularidade global. Tive muito momentos memoráveis com fãs, porque quando se tem oportunidade de dar algo às pessoas que adoram o seu desporto é mesmo muito recompensador. Também me lembro do que é ser um fã lá fora, portanto quando estamos cá dentro é maravilhoso podermos chegar às pessoas que gostam do que nós fazemos.
(L): As equipas de fórmula 1 têm mais de mil empregados. Que características deve ter um líder para gerir tantas pessoas neste ambiente tão competitivo?
(MG): Clareza e consistência da mensagem e uma cultura de constante melhoria. É muito importante que todas as pessoas da organização saibam qual é a estratégia e compreendam as prioridades-chave. Ter uma cultura de aprendizagem é vital. Os erros ocorrem e quando isso acontece temos de os encarar como uma oportunidade de aprendizagem e crescimento e não como uma razão para culpar pessoas, sistemas ou tecnologia.
(L): Que características deve ter um futuro líder de fórmula 1?
(MG): A habilidade para olhar para fora da indústria, enquanto tem a dedicação e o foco para estar na vanguarda dentro dela. Naturalmente deve ter uma paixão e focar-se nisso, e se não tiver, reconhecer que a concorrência provavelmente terá. Mas é importante olhar para o exterior porque os modelos de negócio e as tecnologias estão em constante mudança, portanto, neste ambiente dinâmico e fluido todos precisamos de estar atentos ao que vem a seguir.
(L): Qual foi o melhor piloto que conheceu? Ele também tinha o que é necessário para ser um bom líder?
(MG): Sem dúvida, Michael Schumacher. Ele era um bom líder de pessoas porque compreendia o conceito de Uma Equipa, trabalhar em conjunto, ganhar como equipa e perder como equipa. Também sabia que tiramos de uma equipa o que lá pomos e a sua dedicação ao trabalho fazia com que todos se sentissem inspirados em fazer um esforço extra e juntarem-se a ele ao alcançar tanto sucesso.
(L): Se comparasse a estrutura de um automóvel com uma organização, qual o sistema que representaria o Líder? O motor? O volante? O combustível? A caixa de velocidades?
(MG): O volante. No limite, o líder tem que decidir a direção em que vai o negócio para, literalmente, o manter no rumo e posicioná-lo relativamente à concorrência.
(L): Diria que um bom líder tem mais características de piloto de velocidade, piloto de rally ou piloto de resistência?
(MG): Boa pergunta, mas vou responder de forma diferente. Um bom líder deve ter as características de um piloto campeão do Mundo; a capacidade para ter um desempenho consistente durante um longo período de tempo, a agilidade para adaptar a estratégia quando as condições o exigem ou a concorrência faz algo inesperado e, finalmente, a clara noção de que nunca vai ganhar sozinho – precisamos de construir a melhor equipa de pessoas à nossa volta.
(L): Acredita que a fórmula 1 vai continuar a liderar o mundo da competição automóvel? É inevitável que os carros de fórmula 1 venham a ter motores elétricos?
(MG): Após 67 anos, a Fórmula 1 está muito bem instalada no pináculo do desporto motorizado e, neste momento, está a passar por uma revolução para envolver os fãs mais jovens numa época de jogos online, desportos eletrónicos, serviços de streaming e redes sociais. Já geramos 20% do nosso desempenho a partir de dois motores elétricos que estão em cada carro e essa percentagem vai aumentar. A eletrificação total vai ser possível, e com a indústria automóvel e os governos a orientarem-se para um futuro totalmente elétrico, estou certo de que a Fórmula 1 vai desempenhar um papel no desenvolvimento e popularidade das tecnologias envolvidas.
(L): As equipas de fórmula 1 têm dois pilotos. Se na última volta de uma corrida tiver os dois pilotos nos dois primeiros lugares, mas o que está em segundo precisar de ganhar a corrida para ser campeão do mundo, o que faria?
(MG): Essa é uma decisão fácil, pediria ao piloto que está no primeiro lugar para deixar passar o seu companheiro de equipa. Quando assinamos contratos com pilotos prevemos este tipo de cenário. A equipa tem de vir em primeiro lugar, e se um dos nossos pilotos puder ajudar o seu companheiro de equipa a ganhar o campeonato do Mundo e bater a concorrência, deve fazê-lo. No limite também será bom para o outro piloto porque todos verão que ele — ou ela — é um jogador de equipa e o seu valor aumentará.