No atual mundo empresarial, a presença das mulheres em cargos de liderança tem crescido consideravelmente. Este avanço é resultado de um longo processo de superação de desafios inerentes à sociedade e que todos os dias temos tentado contrariar, nós e tantas mulheres antes de nós, que têm aberto este caminho. Como mulher e diretora geral da Coca-Cola em Portugal, tenho o privilégio de contribuir para essa mudança e gostaria de partilhar como tenho trilhado o meu caminho.
Um dos desafios mais evidentes é o equilíbrio entre a vida familiar e profissional. Acredito que, nós mulheres, somos naturalmente empáticas e cuidadoras, o que por vezes pode parecer que precisamos de fazer malabarismos para conseguir conjugar um lar feliz (e que funciona lindamente), com uma carreira de sucesso. É por isso que, como sociedade (empresas e instituições), devemos apoiar a criação de ambientes de trabalho que permitam a conciliação entre estes papéis, como por exemplo com flexibilidade de horários e local de trabalho, programas de licença parental mais inclusivos.
A exigência que temos connosco também se pode tornar num desafio. Muitas vezes cobramo-nos demasiado, aspirando a “perfeição” em todas as áreas da nossa vida. É fundamental darmo-nos mais permissão para saber que é importante fazer simplesmente “bem feito” e inclusive darmo-nos permissão para falhar, lembrarmo-nos que é através dos erros que mais aprendemos, e que a jornada rumo à liderança e a realização pessoal, tanto a nível pessoal como no profissional, é repleta de desafios e aprendizagens.
Para além disso, a herança histórica e social desempenha um papel fundamental nos desafios que as mulheres enfrentam na liderança empresarial. Não posso deixar de reconhecer que em algumas fases da minha vida profissional experienciei uma cultura mais “machista”, em que era a única mulher. Nesses momentos, também é importante saber lidar com a situação e fazermo-nos ouvir, não nos deixarmos “oprimir” por ser a minoria, mostrar a riqueza da diversidade e avançar com confiança em nós próprias!
Também como sociedade, é fundamental ajudarmo-nos umas às outras. Criar uma rede de apoio e encontrar os nossos “aliados”, sejam família ou amigos. Isto é algo que é muito forte na América Latina e que eu acho que é um “facilitador” para conseguirmos gerir melhor a parte profissional e pessoal. Saber que podemos aceitar um convite, porque temos alguém que pode ajudar com os filhos, e que nós também podemos ajudar a vizinha.
Outro aspeto crucial para mim, e um conselho que daria à minha filha, é procurar sempre a independência financeira e emocional, de forma a ter liberdade para tomar decisões com confiança e seguir os nossos objetivos e aspirações na vida. Evitando, na medida do possível, ser refém de circunstâncias que nos impeçam de concretizar os nossos sonhos. Devemos procurar o ambiente em que queremos estar, que se adeque aos nossos valores e onde possamos desenvolver o nosso potencial; e não ter medo da mudança, ou bom… ter medo, mas fazer na mesma, porque há muitos caminhos e nós temos o poder de decidir qual o que queremos percorrer.
Por fim, não devemos aceitar e resignar-nos perante a desigualdade não só de género, mas também no que diz respeito a minorias. A luta pela igualdade não é apenas uma responsabilidade das mulheres, mas de toda a sociedade. A diversidade de género é essencial para a inovação e o sucesso empresarial. Encorajo todas as mulheres a desafiar as barreiras, a acreditar em si mesmas e a se tornarem líderes nas suas áreas de atuação.
As mulheres provam diariamente a sua capacidade de liderar e inovar. Acreditemos em nós mesmas, trabalhemos juntas, apoiemo-nos umas as outras e continuemos a quebrar barreiras. O mundo precisa do nosso talento e visão.