Um líder é alguém que faz com mais sucesso aquilo que todos os outros fazem ou é um inovador? Glastonbury é o segundo maior festival de música a céu aberto do mundo, depois do Coachella na Califórnia, e o maior de Inglaterra. Junta quase todos os meses de junho, durante três dias, cerca de 130 mil pessoas numa das localidades mais místicas do Reino de Isabel II.
Há a música acima de tudo. E outras artes performativas, mas são as bandas, cantores, estrelas mundiais e não tanto assim, dentro e fora dos palcos, que fazem Glasto. E depois houve o Dalai Lama que já por lá passou, há o palco piramidal sinal da magia e da boa energia do festival (“hippie, hippie, hippie!”), comida apta a satisfazer digamos que o José Avillez, a quinta e as tendas, algumas semelhantes a um camping de luxo, lama, wellies, as causas sociais – a primeira foi o desarmamento nuclear –, o Corbyn agora caído em desgraça, ou em derrota o que não é a mesma coisa, em cima do palco, tudo moderníssimo e cool e selvagem ou campestre num mix como só os ingleses sabem fazer. Tudo isto e ficamos a saber que a Taylor Swift será em 2020 a primeira mulher cabeça de cartaz desde a Adele em 2016 e a sexta artista a solo feminina a encabeçar o cartaz do festival nos 50 anos da sua história. Na verdade podia ser facilmente constatado, mas deixamo-nos impressionar por tantas outras coisas e a notícia causou-me espanto. Tantas causas e não contratam mulheres para cabeças de cartaz? Uma das coorganizadoras, a Emily Eavis, anunciou que em 2020 o cartaz será balanceado entre mulheres e homens tão perto dos 50/50 quanto possível, mas que é difícil, sobretudo na pool dos cabeça de cartaz, conseguir esse equilíbrio. Conclui dizendo que a indústria musical tem de trabalhar nesta diversificação e promover as artistas mulheres tal como faz com os homens.
Chega uma altura em que tem de se romper com as regras, mesmo dos modelos de sucesso, sob pena de, por não nos envolvermos na atualidade, ficarmos fora de jogo. Como diz a Anna Wintour, a editora da Vogue USA, reconhecida como a pessoa mais poderosa e influente do mundo da moda – indústria que coloca dois dos seus entre os dez mais ricos do mundo listados pela Forbes em 2019 –, “um líder não é um seguidor”.
Por: Sandra Clemente, jurista