Numa carta aos empresário, António Saraiva (Presidente da CIP) alerta para os riscos da inflação refletindo na subida de preços na gasolina, eletricidade entre outros. No fim da sua mensagem, anuncia para o próximo mês setembro a apresentação de um conjunto de medidas para gerir o aumento dos custos de produção e de funcionamento.
Caro(a) Empresário(a),
O que há 6 meses alguns questionavam como um fenómeno transitório está hoje confirmado como uma realidade inesperada: a inflação. Segundo os dados mais recentes do INE, a taxa de inflação terá atingido os 9,1% em julho (medido pela taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor). Estamos perante a maior taxa de inflação das últimas décadas.
Na sequência de alguns constrangimentos da oferta decorrentes da pandemia e com a retoma da atividade em vários setores os preços das matérias-primas tiveram aumentos significativos e os impactos da guerra na Ucrânia estão a fazer-se sentir aos mais diversos níveis. Os aumentos dos combustíveis, incluindo o gás natural, e da eletricidade são os que têm maior impacto no custo das empresas. Em vários setores de atividade este brutal aumento da energia torna a produção inviável, não havendo condições para repercutir os novos custos nos preços.
Por outro lado, as medidas macroeconómicas de controlo da inflação têm como efeito direto o aumento das taxas de juro, o que é particularmente duro no tecido empresarial português que, como é sabido, está bastante dependente de capitais alheios, o que ainda foi reforçado pelo período recessivo de 2020/21.
A CIP – Confederação Empresarial de Portugal tem vindo a acompanhar, com preocupação, os desenvolvimentos relativos à inflação e tem suscitado junto do Governo a necessidade de
acautelar o funcionamento das empresas sujeitas a este choque, nomeadamente em termos do preço da eletricidade e do gás.
Temos bem consciência do que está a ser feito em diversos outros países e a forma como a competitividade das empresas está a ser defendida e isso é essencial para a manutenção do tecido empresarial.
Temos questionado a insuficiência das medidas até agora tomadas, bem como o atraso com que têm chegado ao terreno. Propusemos medidas mais robustas, mais abrangentes e mais adequadas. Em complemento, e dado que há a consciência que nem todos os setores da economia sofrem estes problemas na mesma medida, a CIP vai dedicar o seu próximo trabalho com o FutureCast-Lab do ISCTE à inflação nas empresas portugueses.
Nestes termos, em setembro estaremos em condições de apresentar um conjunto mais completo de medidas para gerir o aumento dos custos de produção e de funcionamento.
Quando tanto se fala em sustentabilidade e resiliência, Portugal tem que ser capaz de encontrar a forma de não perder competitividade, para que as empresas portuguesas não só subsistam, mas invistam e empreguem cada vez mais.
António Saraiva
Presidente da CIP