Agatha Arêas, é vice-presidente da Learning Experience Unit (LExU) do Rock in Rio e mentora do projeto Humanorama. Em 2019, o festival de música e entretenimento lançou a LExU dedicada à educação e formação com base na marca e modelo de negócio do Rock in Rio (RiR). Entre as várias iniciativas conta-se com o Festival Humanorama, onde em vez de a música, é dado o destaque às palavras através de conversas entre personalidades, figuras públicas e desconhecidos. Agatha Arêas contou à Líder um pouco mais sobre o projeto e a filosofia singular de uma marca reconhecida mundialmente por querer criar um mundo melhor.
Conte-nos um pouco sobre o projeto RiR Humanorama e como vai funcionar o Festival das conversas?
Começo pela origem palavra “humanorama”. Orama, vem do grego e significa “vista, o que se descortina, espetáculo”. Foi um pintor escocês, no século 18, que usou a palavra pela primeira vez quando quis apresentar uma nova forma de pintar a paisagem, juntando “Pan” e “orama”, e criou a palavra panorama. A palavra “orama” tem a ver com espetáculo, que tem tanto a ver com o nosso universo onde quem está sob os holofotes é o ser humano. Humanorama é o espetáculo do ser humano. O RiR é um festival de música e um espetáculo onde as pessoas brilham. Neste festival de conversas os temas que merecem os holofotes são os mais urgentes, pois chegamos a um momento do mundo em que há questões que estão queimando no universo de cada um. Entre o Brasil e Portugal, este projeto faz a ponte entre os dois países, e promove a conexão e o debate de doze temas. A segunda edição do Festival Humanorama (a primeira foi em setembro 2021, em modo 100% digital) vai decorrer entre os dias 28 e 31 julho, no Brasil, e também em modo online. Com a primeira experiência presencial a acontecer em São Paulo, o acesso é feito através da compra de um bilhete cujo valor reverte na doação de cursos para talentos empreendedores da periferia do Brasil. O RiR é um projeto que gere inclusão e por isso coloca os holofotes sobre as pessoas que precisam dessa atenção.
O que diferencia este festival e entre os vários temas emergentes quais destaca?
No Humanorama criamos grupos heterogéneos, encontros improváveis, gerando conversas que o público não vê noutros lugares. Também damos voz àqueles que ainda não têm espaço, mas que já geram impacto social e promovem transformação. Quanto aos temas, escolho o “Mundo Fluído” pois acho ser transversal a todos. O mundo está a mudar e entramos num registo de inconstância, com a evolução do modelo VUCA (Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous) para o BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible). O que há em comum é que nada vai parar de mudar e vai mudar cada vez mais aceleradamente, o que causa um monte de questões na saúde mental. Não dá para entrar no ritmo do algoritmo! O mundo fluído entra nas “Relações Humanas”, e nós somos pró relações humanas, tanto na gestão do negócios e marcas, como entre as várias áreas. Destaco também o tema das “Intergerações”, pois o RiR tem a ver com quatro gerações que trabalham juntas, desde os Baby boomers até Geração Z, e quando começa o evento, entra mais uma quinta geração, os Alphas. A convivência entre várias gerações também promove uma boa saúde física e mental. A “Pluralidade” está na nossa vida, cada vez mais e ainda bem que se fala disso, pois é uma questão de humanidade, de ser inteligente. Perceber as diferenças, e o valor que vem da diversidade é fundamental.
Como tem sido a sua experiência na gestão do LExU?
Após vários anos como Diretora de Marketing do RiR percebi que havia uma grande corrida no mercado atrás dos nossos profissionais para falar sobre o modelo de negócio RiR. A pergunta era “como pode a marca de um festival tornar-se um negócio e uma plataforma de comunicação?” E foi aí que comecei a entrar pela área da educação e aprendizagem, primeiro pela criação do Rock in Rio Academy. Fomos buscar um parceiro de formação executiva e criamos esta academia que é a imersão no modelo de negócio do Rock in Rio. Usando o conceito de “edutainment”, que é a junção das palavras education e entertainment, fiz a proposta de criar uma área de educação. Passei a minha pasta do Marketing, e em abril de 2019 nasceu oficialmente a unidade LExU (Learning Experience Unit) da qual eu sou líder. Temos várias iniciativas como o RiR Academy, Innovation Week, How to Rock in Rio e o Festival Humanorama.
Dentro do propósito do Rock in Rio de chegar a tantas pessoas e querer tornar o mundo melhor, o que há ainda a fazer para tornar o planeta mais humano?
Todos os dias reafirmamos o compromisso de nos mantermos humildes, de saber que estamos em constante evolução e que somos eternos aprendizes. O território da educação e aprendizagem é um dos meus favoritos e, para mim, o mais importante. Da educação surge uma alavanca de transformação, de onde vem o crescimento, a autoestima, o empoderamento e a inclusão. A educação equaliza os cenários e aqui no RiR vivemos essa verdade. A nossa barra é lá no alto e todos os anos terminamos um festival dizendo que o próximo será o melhor de todos os tempos. Sabemos da responsabilidade e oportunidade em representar uma marca que entra pela vida das pessoas. Há uma responsabilidade gigantesca, pois sabemos que influenciamos e o que entregamos tem de ter qualidade. As conversas, sejam no Humanorama ou na Cidade do Rock, têm a nossa responsabilidade. Mesmo na pura diversão temos de pensar no que vamos colocar aqui dentro. E esse poder de atração e mobilização é também uma oportunidade de canalizar a energia e atenção para projetos construtivos, num espaço onde damos voz às pessoas. A LExU começou há três anos e estabelecemos seis metas a cumprir até 2030 em que uma delas é formar 100 mil pessoas a partir de iniciativas nesta área. Há muito trabalho para fazer até lá, entre Portugal e o Brasil, temos muitas pessoas para formar e capacitar.
Por Rita Saldanha