Estamos ainda no início do ano, mas o cenário não é animador. Continuamos a enfrentar uma inflação, as taxas de juro estão mais altas que nunca, as crises energética e ambiental não têm fim à vista.
Quem fica para trás? O que podemos fazer para trazer as pessoas para primeiro plano? Sob a luz destas questões, “People First on the CEO Agenda” juntou pela primeira vez CEOs e gestores de RH de empresas portuguesas.
O evento organizado pelas Conversas com Significado, na Nova SBE, contou com o painel “O S em ESG” que juntou Miguel Setas, Executive Board Member da EDP e Vítor Cunha Ribeirinho, CEO da KPMG Portugal, numa conversa moderada por Maria da Glória Ribeiro, Managing Director e Fundadora da Amrop Portugal.
O “Social” no ESG
“É bom termos a consciência e sermos transparentes relativamente a esta questão: o S no ESG não é uma realidade no nosso país, não é um ponto central. Tem sido colocado em último lugar”, afirma Vítor Cunha Ribeirinho, CEO da KPMG Portugal.
Apesar de a governança e o ambiente serem questões centrais e que têm de ser trabalhadas “a realidade é que há mil milhões de pessoas com fome no mundo. 30% da população mundial sobre de insegurança alimentar, por mais que tenhamos uma visão “hemisfério norte”, refere Miguel Setas, Executive Board Member da EDP.
Lideranças conscientes e sensíveis ao mundo que os rodeia é imperativo nos dias de hoje, e Miguel Setas reforça que “o S é uma dimensão muito tímida, e o E é claramente dominante. Tem de haver trabalho com significado. Quando eu consigo ligar a minha essência, os meus valores, com aquilo que é o propósito da organização, isso pode ter um impacto exponencial impressionante”, continua.
A diversidade como ponte para o sucesso
Porquê investir na diversidade e inclusão na sua organização? O Executive Board Member da EDP não deixa dúvidas: “A diversidade é uma clara alavanca de criação de valor. Assim conseguimos construir uma empresa resiliente, inovadora, criativa. Procuramo-la nas suas mais diversas expressões”
Todos temos preconceitos, mesmo que não nos apercebamos deles (o chamado “unconscious bias”), e por isso é importante que as organizações estabeleçam metas e medidas para colmatar essas falhas.
Na EDP, as metas são já claras: “queremos chegar aos 30% de representação feminina em lugares de liderança e na nossa força de trabalho; tínhamos uma meta de ter 40% de Millennials em lugares de liderança, e hoje já temos 42%. Temos 3,6% de pessoas que trabalham fora do seu país de origem, e o objetivo é alcançar os 5%”
A atração de talento pode ser um entrave
O trabalho a ser feito começa logo com os recrutadores. “Quando se abria um processo de recrutamento, tínhamos um número igual de mulheres e homens, portanto o problema não era de acesso. Quando chegávamos ao fim do processo, tínhamos tipicamente 80% homens e 20% de mulheres. Claramente havia um ‘unconscious bias’, já que os recrutadores são normalmente homens, e acabavam por escolher os seus iguais”, conta.
Assim, a formação de lideranças e equipas é fundamental, bem como alterar os processos de recrutamento, para torná-los mais justos para todos.
Para o CEO da KPMG, o investimento na vertente social tem vindo a ser feito “investimos já 1,5 mil milhões de dólares na organização, para a capacitação das nossas pessoas para essa realidade”, realçando que “a prioridade neste momento passa pelo desenvolvimento das métricas para que os nossos clientes possam também percecionar o valor do S no seu negócio”.
Por outro, a retenção é de igual importância
“Temos um grande foco, que é garantir que todas as pessoas têm experiências gratificantes dentro da EDP. Temos projetos de redução de pay gap, para assegurar que o gap entre homens e mulheres encurta cada vez mais”, diz Miguel Setas.
Ainda assim, Portugal não está pronto para lidar com alguns grupos sub-representados: “Alguns destes sistemas são mais maduros em diferentes geografias. No Brasil vimos a necessidade de construir uma escola de eletricistas para transsexuais. Se fizéssemos isso em Portugal, seria delicadamente convidado a sair da sala”, avançou, “não estamos maduros para essa realidade”.