Liderança e sensibilidade não são antónimos, muito pelo contrário. Para João Vieira de Almeida, Senior Partner e Chairman da Sociedade de Advogados Vieira de Almeida, é absolutamente claro que um líder deve assumir as suas fragilidades. Sabe que «o amor, a compaixão e a empatia são superpoderes». «Um líder que não sente, não sabe sentir as suas pessoas e elas nunca o sentirão como um líder, apenas como um chefe», partilha.
João transporta no apelido o nome de uma das maiores Sociedades de Advogados em Portugal, a mesma que também conduz desde 1996. Uma vida dedicada ao trabalho, vivida sob longas horas de muito stresse. Há 4 anos, confidenciava numa conversa para a Executive Digest que em 2011 estava a sua empresa num dos períodos mais difíceis e ele no culminar de um burnout. Foi também esta a altura que sentiu necessidade de encontrar um escape quando encontrou o caminho para as montanhas, não como saída, mas como forma de lidar com a pressão no trabalho.
Tinha 49 anos, quando iniciou a prática de yoga, meditação e expedições. A primeira montanha que subiu foi o Kilimanjaro. Pelo papel que teve na sua vida, é lá que regressa sempre.
É um exemplo de um líder que se soube reerguer. O que foi determinante para o seu renascimento?
O ter pedido, e encontrado, ajuda: a medicina, a família e os amigos.
É um exemplo de um líder que se soube reerguer. Assumir publicamente que teve uma depressão é ainda um grande tabu e de uma coragem singular. O que o levou a falar sobre a sua condição?
Banalizar uma história que é isso mesmo: banal, mas, infeliz e frequentemente, silenciada, com as terríveis consequências que isso tem.
O estigma e o preconceito são ainda um combustível para as doenças mentais?
São manifestações obsoletas de uma ignorância geral que nos devia envergonhar, e de uma vergonha individual que devíamos ignorar.
Depois de estarmos no caos e nos reerguermos, nunca mais voltamos a ser iguais?
Não voltamos a ser iguais ao que éramos. Voltamos a ser mais iguais ao que somos.
50% dos transtornos de saúde mental instalam-se até aos 14 anos, e 75% até aos 24 anos. Ou seja, metade dos adultos com doenças mentais ficou doente na infância, e 2/3 na adolescência e início dos vintes, conclusões da OMS. Nesta causa da saúde mental, o que acha que nos está a escapar para saber cuidar do assunto?
É necessário mudar as mentalidades na sociedade, mudar as políticas nas organizações e mudar os investimentos na saúde. É preciso criar condições para que as doenças mentais sejam rastreadas e possam ser detetadas e tratadas como qualquer outra, e para que quem sofre sinta confiança para estender a mão e pedir ajuda.
Depois de tudo o que passou, quais são as suas principais aprendizagens?
Que sou apenas humano, como todos nós, e que isso é maravilhoso; que o amor, a compaixão e a empatia são os nossos superpoderes; que vale a pena viver.
A vulnerabilidade faz parte da condição humana. Como pode um líder mostrar-se sensível e frágil sem perder o foco e capacidade de liderar?
Liderança e sensibilidade não são antónimos, muito pelo contrário; um líder que não sente, não sabe sentir as suas pessoas e elas nunca o sentirão como um líder, apenas como um chefe.
Enquanto responsável por uma equipa, a sua experiência influenciou-o no desenvolvimento e implementação de algumas práticas no campo profissional. Qual é que deve ser o papel de um líder na promoção da saúde mental nas organizações?
O papel das lideranças é absolutamente crítico para endereçar o tema da saúde mental nas organizações. A mudança tem de começar top-down, com os líderes a dar o exemplo, assumindo as suas próprias fragilidades e, sobretudo, gerando espaço nas suas equipas para que quem precisa possa pedir ajuda sem temer consequências adversas.
BI
João Vieira de Almeida
Educação académica: Direito
Livros da sua vida: Memórias de Adriano; Chora Terra Bem-Amada; 1984
Podcasts: The Economist; Real Dictators; Conflicted; The Happiness Lab
Viagens de sonho: A seguinte
Líder que o inspira: Nelson Mandela
Esta entrevista faz parte da rubrica “Líderes em Destaque”, publicada na edição de outono da revista Líder. Subscreva a Líder aqui.