Com mais de 25 anos de experiência profissional em funções de gestão nas diversas áreas de Recursos Humanos, a paixão de Elsa Carvalho continua a ser a gestão e transformação dos negócios potenciando as pessoas. Hoje é Executive Board Member e Head of Consulting Services do Grupo Egor em Portugal, que conta com 158 colaboradores e mais de 35 anos de experiência e especialização em RH, em áreas como consultoria e coaching, formação, outsourcing entre outras.
A forma como trabalhamos é agora uma nova realidade, e os Recursos Humanos são a área por excelência, dentro das organizações, que assume a função do negócio e dita as tendências e mudanças do futuro. Uma liderança positiva e mais humana é a chave para um admirável novo mundo do trabalho.
Nos últimos 20 anos, assiste-se a uma das maiores revoluções na área dos RH, entre os vários setores de negócio. Conta com um percurso profissional extenso, sempre do lado da gestão de pessoas. O que mudou definitivamente?
A função de Recursos Humanos mudou definitivamente de “suporte” para “negócio e liderança”. Deste modo, a par com uma função de desenho e implementação de políticas, esta deverá ter como missão fazer a conexão e alinhamento entre os diversos níveis da organização, liderando os projetos de transformação e mudança. Para isso é critico conhecer e acompanhar todos os níveis da organização, assim como, perceber a evolução do mercado e os principais desafios do setor de atividade onde atua, de forma a antecipar tendências e alinhar a agenda de transformação no curto e médio prazo.
Adicionalmente, se em tempos se evoluiu muito (e bem) ao nível de automação da atividade de RH, neste momento torna-se crítico um “human interface” onde a interação pessoal adicione valor. São necessários rostos e nomes nestas interações humanas e a promoção de uma proximidade de forma contínua. Para liderar tantas mudanças organizacionais, as próprias equipas devem ser grupos inspiradores capazes de influenciar e moldar a cultura interna. Tendo presente a velocidade atual com que as mudanças ocorrem, ter líderes e uma equipa capacitada para a sua gestão passou a ser um “must have” tendo presente a diversidade e complexidade de stakeholders a nível interno e externo.
Ultrapassada, em parte, a tempestade maior, ao fim de dois anos de Pandemia e de enormes constrangimentos para as empresas, quais são hoje os principais desafios para os Recursos Humanos?
Na minha perspetiva, a pandemia criou a oportunidade e a necessidade de remodelar o mundo do trabalho para uma forma mais humana. Os líderes na gestão de pessoas podem preparar o caminho para um futuro de trabalho mais empático, solidário, inclusivo, diversificado, flexível, adaptável e, acima de tudo, centrado nas pessoas.
Deste modo, torna-se crítico e urgente, para todas as organizações, pensarem que ações concretas podem empreender para fazer face a questões e desafios muito atuais. Um grande desafio é a capacidade de atração, sendo este um fator decisivo em determinados setores de atividade. A escassez de pessoas em muitos setores e áreas funcionais constituem oportunidades para pensar talento de forma mais global, integrando talento sénior e outro disponível, independentemente das formas contratuais. Aumentar a flexibilidade e explorar “pools de talentos” não disponíveis para emprego a tempo integral pode introduzir complexidade na gestão, mas subsiste uma alternativa a ser explorada. As questões demográficas, fluxos migratórios e educação e formação são críticas. Analisar as oportunidades de reskilling e upskilling permite, para além de ter capital humano relevante e mais atualizado, uma força de trabalho mais flexível.
Questões relacionadas com retenção, motivação e compromisso tornam-se ainda mais prementes. Muitas empresas repensam formas de interação e de organização do trabalho (integrando equipas híbridas e/ou remotas) e tipo de cultura a promover internamente. O alinhamento entre o sentido de propósito individual e organizacional passou a ser uma variável importante e com reflexos muito diretos ao nível do compromisso. A sustentabilidade (nas vertentes ambientais e sociais), práticas de boa governação e a criação de uma cultura empresarial que fomente uma maior diversidade e inclusão são questões a que a sociedade e as pessoas estão cada vez mais atentas. Uma pesquisa recente da McKinsey constatou que os colaboradores apresentam uma probabilidade cinco vezes maior de se sentirem comprometidos em trabalhar numa empresa que se dedica a refletir sobre o impacto que causa no mundo. A Saúde (no conceito global de saúde física, social, mental e financeira) entrou definitivamente na agenda passando para uma visão cada vez mais holística da pessoa. Todas estas mudanças e oportunidades terão de ser necessariamente suportadas e promovidas pelas lideranças. Sabemos que os desafios são grandes, o ritmo no qual ocorrem é acelerado, mas temos cada vez mais pessoas preparadas para os gerirem.
O “Global Green Skills Report 2022 do Linkedin” revela a ascensão de “talentos verdes” em linha com a transição digital e transformação das empresas. Em Portugal, os empregos verdes também estão em alta?
Este relatório, realizado a nível mundial, pretende fornecer “insights” para que os principais agentes possam capacitar as empresas com as funções e skills necessários a uma transição necessária e urgente para uma economia verde. Os “green jobs and skills” são igualmente uma realidade em Portugal. Reforço que, para além de funções e skills específicos capazes de endereçar os desafios de cada atividade e gerir a agenda, torna-se crítico a mudança cultural e de hábitos a nível global. Não obstante as novas gerações parecerem estar mais despertas para essa realidade, adotando de forma natural comportamentos e hábitos com maior consciência do impacto ambiental, neste momento existe uma tomada de consciência a nível global.
Quais são as características indispensáveis para uma liderança positiva e mais humana?
A liderança humana e positiva incentiva, motiva e inspira. A literatura aponta para uma série de características. Da minha experiência, destaco como verdadeiramente relevantes a capacidade de escuta e acessibilidade. O líder positivo sabe tomar decisões, mas ouve as equipas e integra a informação na tomada de decisão. Comunica de forma eficaz revelando respeito e empatia e inspira ao seu redor, valorizando as pessoas e apostando no seu desenvolvimento. Finalmente destaco o perfil do líder otimista, que reconhece dificuldades, mas sabe lidar com elas, mantendo uma energia “positiva”.
Para liderar tantas mudanças organizacionais, as próprias equipas devem ser grupos inspiradores capazes de influenciar e moldar a cultura interna. Os líderes na gestão de pessoas podem preparar o caminho para um futuro de trabalho mais empático, solidário, inclusivo, diversificado, flexível, adaptável e, acima de tudo, centrado nas pessoas.
Este artigo foi publicado na edição de outono da revista Líder
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