O metaverso diz-nos que a próxima fase da Internet será imersiva. A Internet não estará apenas nos telemóveis ou nos computadores, em vez disso, ela estará por todo o lado, rodear-nos-á, e grande parte das nossas vidas, do trabalho ao lazer, ocorrerá dentro do próprio metaverso.
De certeza que já ouviu falar do metaverso. Mas ainda não se sabe ao certo tudo o que vai implicar. Fala-se numa reformulação radical da sociedade e há quem acredite que, num futuro muito próximo, quem estiver fora do metaverso ficará fora do Mundo. Jim Stolze, especialista em Criptografia e Inteligência Artificial, subiu ao palco da SingularityU Portugal Summit: Supermassive, na NOVA SBE, em Carcavelos, para falar sobre como podemos atuar e permanecer num novo universo: “Welcome to the Metaverse”. À Líder falou com entusiasmo sobre o sucessor da Internet, que promete revolucionar o mundo como o conhecemos. Uma entrevista esclarecedora sobre este universo da Internet das Experiências Imersivas.
O metaverso refere-se ao mundo digital ainda por desenvolver, no qual empresas como a Meta estão a investir fortemente. Mas afinal, o que pretende ser esta web3.0?
O metaverso vai ser espetacular! Ele vai ter tudo o que gostamos na Internet, como conectar-se com outras pessoas em torno de comunidades e interesses em comum. Mas sem as limitações da web atual, como usar apenas texto e imagens em 2D.
Pense na web atual como a Internet da Informação, o metaverso promete tornar-se a Internet das Experiências Imersivas.
Isto pode não passar de uma fantasia fanática dos gamers?
Esse é um argumento muito bem visto. Obrigado por trazer isso à tona! Na verdade, os jogadores sempre nos mostraram o caminho a seguir para a inovação digital. Eles já estavam a usar salas de conversa (chat rooms), redes sociais e streaming muito antes de qualquer um de nós entender realmente o seu significado. E agora estão a mostrar-nos como usar a realidade virtual, a inteligência artificial e o blockchain para criar mundos virtuais onde pessoas e marcas podem interagir de forma envolvente. Neste sentido, gosto de dizer que o Metaverso é um lugar onde vamos poder fazer outras atividades além de jogar e actuar em mundos parecidos com jogos.
Muitos vêem-no como o objetivo final de Mark Zuckerberg.
Sim, Mark tem sido um forte defensor do metaverso. Ele não tem dúvidas de que a próxima fase da Internet será imersiva. E verdade seja dita: graças aos seus investimentos na Oculus (agora Meta), o mundo viu o que um headset VR premium pode fazer. No entanto, sou um pouco ambivalente quando se trata de Zuckerberg. Ele considera que o seu metaverso será o único: Horizon Worlds. Mas se alguém acredita realmente no metaverso, deve mantê-lo aberto. Deve ser um lugar para a inovação sem limites. Qualquer pessoa deve poder contribuir, não apenas developers que trabalham para a Meta ou utilizadores do Facebook. Se há duas coisas nas quais devemos trabalhar são nos standards e na operacionalidade.
Que falhas tenciona o metaverso corrigir da web 2.0?
A Web 2.0 foi uma grande melhoria em relação à Web 1.0. Proporcionou aos utilizadores a oportunidade de produzir e criar conteúdo digital. A promessa das redes sociais era dar poder ao povo. Infelizmente, a maneira como o Twitter, o Facebook e o Google decidiram trabalhar foi por meio de um modelo centralizador. Eles armazenam, possuem e vendem os nossos dados. Isso dá-lhes muito poder. Não há nada de social na maneira como estas empresas ganham dinheiro. E também não é seguro. Basta recordarmo-nos do Cambridge Analytica. Eles tiveram acesso aos dados das pessoas de maneira ilegal. Mas como os dados foram armazenados centralmente (através do Facebook), não houve problema em roubar e abusar daquela informação. Com a Web3.0 queremos corrigir esse erro. O novo modelo é descentralizado. Isso significa que os dados não são armazenados num único local, mas sim distribuídos pela rede. E o utilizador é responsável por quem tem acesso a partes específicas dos dados (atributos) e pode também revogar essa permissão. Numa situação ideal, todos temos os nossos “pods de dados” pessoais e as empresas/ governos constroem os seus serviços em torno desses pods.
Quando é que o Metaverso estará completo?
Pergunte-me isso dentro de cinco anos. Ah ah. A maioria dos especialistas pensa que levará cerca de 10 anos a partir de agora.
Já vemos alguns resultados das experiências da Heineken, Gucci e Nike até agora em plataformas semelhantes ao metaverso?
Sim! As empresas encontraram formas muito criativas de testar essas plataformas que se assemelham aos metaversos. A Heineken lançou uma nova cerveja em Decentraland através de um evento de imprensa muito divertido que incluiu um DJ e um famoso jogador de futebol. A Nike está a liderar o caminho. Já lançou todo o trabalho de base há algum tempo, registando patentes que envolvem atividades como o download de ativos digitais, a troca de roupas virtuais e a obtenção dos seus ténis à prova de futuro como NFTs. Eles até têm um Diretor do Metaverso, ou então uma engenharia do metaverso.
Recentemente, marcas como a Rolex, McDonalds, VISA, Jack Daniels e Ford também se candidataram ao metaverso. Esta é uma Terra Prometida para marcas?
Se pensar bem sobre o que é uma marca, poderá dizer-se que é a soma de memórias e transações que cada um guarda com uma determinada organização. Não é de admirar que as marcas amem o metaverso! É uma maneira interessante de interagir com os clientes.
É uma oportunidade de realmente impressionar. Então, sim… diria que pode ser o sonho de um gestor de marca.
Mas como é que o metaverso pode ser útil às empresas?
Útil não é a palavra que escolheria agora. É cedo: ainda estão todos a experimentar. Talvez devêssemos substituir “útil” por “valer a pena”. Foi divertido fazer esta atividade? Foi algo de que as pessoas se vão lembrar ou falar?
O que se pode dizer aos céticos?
Bem, é fácil gozar com o metaverso. Os céticos podem dizer que o metaverso será a mesma Internet da treta, mas em 3D. E até podem estar certos. Mas isso é muito fácil. As mesmas pessoas gozaram com o Youtube (por que razão assistiria a um vídeo no meu computador quando tenho televisão?) e dos telemóveis (não preciso de telefone quando saio de casa). Nunca subestime o poder da inovação. Se as pessoas conseguem sonhar, conseguem construir.
Que tipo de público estará no metaverso?
Primeiro serão os jogadores. Em seguida, os developers hão-de chegar e, finalmente, o utilizador médio da Internet irá adotar.
As primeiras plataformas semelhantes ao metaverso já estão a expor preocupações em torno das políticas a aplicar na moderação de interações. Há quem admita ter sofrido de assédio, racismo ou alguma forma de discriminação ao participar num destes ambientes. Acredita que o governo deveria regular o metaverso e fiscalizar o mundo virtual imersivo?
Ponto interessante. Acho que nunca é bom regulamentar uma tecnologia específica. Por exemplo, se alguém não gosta de drones porque eles podem carregar bombas ou espiar pessoas, pode tentar bani-los. Mas quando alguém faz isso, também evita os usos corretos dos drones, como a entrega de alimentos e medicamentos em locais perigosos. Devemos tratar o online da mesma forma que tratamos o offline. Se se sente discriminado no mundo real, pode registar uma queixa ou ir a um juiz. O mesmo precisa de ser possível no mundo online. Não devemos agir como se fossem duas coisas separadas. No futuro não haverá mais separação entre online e offline, haverá apenas onlife.
Um dos vários estudos que tive a oportunidade de ler sobre este tema revela que quase metade dos consumidores acredita que o metaverso fortalecerá as conexões humanas e melhorará o relacionamento com familiares, amigos e colegas. De que maneira?
Gostaria de dizer que concordo, mas novamente: ainda está tudo no início. Não sabemos ainda. Uma desvantagem é que a maioria das pessoas não suporta usar óculos de realidade virtual mais de 40 minutos. Depois disso, ficam tontos ou enjoados. Portanto, antes de podermos medir os efeitos positivos nos relacionamentos, precisamos de nos concentrar no hardware e na forma como afeta os nossos sentidos.
A procura contínua por produtos metaverso ilustra ainda mais a crença dos investidores numa versão «virtual» da internet. Embora a Meta tenha demitido 11 mil colaboradores, esta decisão foi tomada na tentativa de apoiar o enorme investimento necessário para construir o mundo digital ainda em desenvolvimento. Como analisa estes movimentos?
Tenho um sonho. Um sonho em que Zuckerberg dá um dos seus biliões à comunidade de opensource que trabalha numa versão aberta do metaverso. Se ele fizer isso, acredito que todos beneficiaremos.
A sua apresentação no SingularityU Summit levou-nos numa montanha-russa sobre os últimos desenvolvimentos. Para quem não teve oportunidade de assistir, deixe-nos as 3 mensagens principais.
Lembras-te quando viste o primeiro iPhone? E como isso mudou completamente a maneira como as pessoas utilizam telefones em particular e a Internet em geral? O mesmo vai acontecer com o metaverso. Podes pensar que é apenas um ambiente divertido para os jogadores, mas com o tempo descobrirás que mais e mais marcas oferecerão atividades no metaverso e daqui a 10 anos olharás para trás, 2022, onde fazias compras online sem óculos VR e vais-te rir!
Este artigo foi publicado na edição de inverno da revista Líder
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