Muitos de nós tendemos a pensar nos traços de personalidade como sendo bons ou maus. Alguém ansioso, por exemplo, é algo comumente considerado desagradável e debilitante, já a extroversão na maneira de ser normalmente ajuda à progressão e a uma forma saudável de estar na vida . Mas há estudos que sugerem que as coisas não são assim tão simples e lineares. Uma análise da Universidade de Yale , mostra que quase todos os traços “bons” também têm desvantagens e que os traços aparentemente “negativos” conferem benefícios. “Eu diria que não existe um padrão fixo” , comentou o autor Avram Holmes , resumindo as descobertas. “Há um nível de variabilidade em cada um dos nossos comportamentos” e “qualquer comportamento não é apenas negativo ou positivo. Existem benefícios potenciais para ambos, dependendo do contexto em que estamos inseridos”. Em suma, dizem os psicanalistas, os nossos pontos fortes e fracos estão intimamente ligados.
Os introvertidos são melhores “psicólogos naturais”
A equipa de Yale testou cerca de mil voluntários, começou por questioná-los sobre algumas verdades psicológicas pré-assumidas como “ se as pessoas trabalham melhor individualmente ou em grupo”, ou se “ aliviar frustrações numa almofada ou com um boneco de peluche faz diminuir a raiva “ e em seguida sujeitou-os a uma bateria de testes de personalidade. As respostas permitiram concluir que o tímido e melancólico superou definitivamente o jovial e mais amigável. E porquê? “Pode ser que as pessoas mais melancólicas e introvertidas gastem mais tempo a observar a natureza humana do que aquelas que estão mais ocupadas a interagir com outras, ou sejam mais precisas na introspecção porque têm menos preconceitos motivacionais”, diz o psicólogo de Yale e coautor do estudo Anton Gollwitzer, para quem o “silêncio” deixa na mente humana um nível de compreensão dos outros acima da média, revelando talento para a “psicologia natural” mas não só.
Ficar mais “quieto” é definitivamente uma desvantagem quando se quer destacar num grupo, mas sabe-se agora que permite um maior nível de compreensão dos outros, do que aquele que é conseguido por quem é melhor a socializar. São muitas as evidências nesta pesquisa que sugerem que os introvertidos são mais perspicazes quando se trata de compreender as motivações das pessoas e mantêm mais a calma em momentos de “crise”. Habilidades fundamentais para uma liderança eficaz.
Ser “estranho” é bom e “normal”
O estudo conclui ainda que “todos somos um pouco estranhos, mas ser estranho é, de facto, totalmente normal”, é até algo a comemorar. Um entendimento que resulta da evidência, garantem os psicanalistas de Yale, que o mundo não está nitidamente dividido entre o saudável ou doentio, o ideal e o abaixo da média. Ao analisar uma série de características – desde o formato do bico de espécies específicas de pássaros até características psicológicas como o apetite por correr riscos – os autores mostram que essas qualidades existem em contínuo e que separar o “normal” do “estranho” é geralmente impossível. Retirando da equação os casos extremos em que alguma característica ou comportamento é claramente prejudicial à saúde, todas as más adaptações, exceto as mais óbvias, permitem bons e maus resultados. Significa que deveríamos ser mais “positivos” e menos críticos numa auto-análise sobre níveis de “normalidade”, em relação às nossas peculiaridades e às das pessoas em redor. “Estamos todos a esforçar-nos para alcançar algum ideal arquetípico artificial, seja a aparência física ou juventude, inteligência ou personalidade. Mas precisamos reconhecer a importância da variabilidade, tanto em nós quanto nas pessoas ao nosso redor”, afirma Avram Holmes.
Afinal ser diferente é melhor do que se pensa e para aguçarmos os níveis de compreensão, mais vale ser tímido que extrovertido.



