Tiago Santos é CEO da Workwell, empresa responsável pela primeira edição dos Wellbeing Awards que distinguem projetos de saúde e bem-estar nas organizações e promoção de um ambiente cultural positivo entre os colaboradores. As 10 organizações distinguidas, em seis categorias, refletem o que de melhor se faz na implementação de programas, políticas e estratégias de People First. Em entrevista à Líder, ficamos a conhecer o âmbito desta iniciativa e de como o bem-estar é o próximo grande desafio para uma abordagem mais humanizada das organizações.
Nunca se falou tanto em saúde e bem-estar no local de trabalho. É preciso passar das palavras a ações concretas. Qual o objetivo dos Wellbeing Awards?
Sem dúvida que sim, e temos casos em Portugal bastantes interessantes. O grande objetivo dos Wellbeing Awards é inspirar através do bem-estar. Através dos bons exemplos, das boas práticas, do melhor que se faz em Portugal em prol das pessoas. É servir de inspiração a tantas outras empresas que ainda não sabem por onde começar e ajudar a sistematizar todas as práticas internas. Este evento serve também para que se olhe para o bem-estar como algo sério, estruturado e estratégico, que seja integrado na cultura da empresa e que faça parte natural do negócio. Através desta comunidade de partilha de conhecimento é possível acelerar a aprendizagem e melhorar os programas.
Sendo uma primeira edição como foi a adesão à iniciativa?
A adesão superou totalmente as expetativas. Foram mais de 100 candidaturas submetidas, de vários segmentos de atividades. Indústria, tecnologia, banca, farmacêutica, retalho, entre outros, com projetos muito robustos. Foram centenas de páginas de evidências, o que revela o interesse pelo tema no seio das empresas, e o quanto é necessário reconhecer estas práticas, para que outras organizações possam aprender e adaptar às suas realidades.
Como avalia a saúde e bem-estar das empresas portuguesas?
As empresas em Portugal estão mais atentas ao tema do bem-estar dos colaboradores e existem já trabalhos muito sustentados, com alguns indicadores de excelência, como a envolvência das lideranças de topo ou a personalização da oferta aos colaboradores. Portanto aquilo que encontramos com as evidências recolhidas é um conjunto de organizações que já trabalha essa temática ao nível estratégico, integrado na cultura, na missão, visão e valores da empresa, apostando na transparência, na confiança, na flexibilidade e no suporte às pessoas. E outras que ainda estão num nível de maturidade precoce, atuando essencialmente a nível mais tático e operacional, apenas disponibilizando oferta.
Isto significa que estamos no caminho certo, que o bem-estar é hoje mais do que algo fun a oferecer às pessoas, mas que ainda existe um longo caminho a percorrer. Mas é isto, é a adaptação constante às necessidades dos colaboradores e da empresa. Um dos pontos futuros a que as empresas se devem concentrar são os resultados e o impacto destes programas no bem-estar das pessoas.
Qual considera ser neste momento o maior desafio para as organizações?
Estamos num momento disruptivo do mundo do trabalho, com novos modelos organizacionais a serem testados, uma guerra de talento cada vez mais global e níveis muito baixos de engagement dos colaboradores. Todos estes fatores contribuem para que os anos que se avizinhem sejam bastante desafiantes e as empresas que tenham uma abordagem mais humanizada na gestão das pessoas e empresas, estejam mais preparadas para o futuro. Isto implica uma liderança que se preocupa genuinamente com as pessoas, com o seu bem-estar, no trabalho ou fora dele, que exista um clima de confiança, autonomia e flexibilidade, para responder às necessidades individuais e coletivas.
Ser feliz no local de trabalho está a tornar-se num ponto central na atração e retenção de talento. A resposta está na cultura das empresas não basta implementar boas práticas. Concorda?
Sem dúvida que sim. As boas práticas de nada servem se forem avulsas ou se não existir um objetivo específico para as mesmas. De que vale implementar uma iniciativa de bem-estar, se depois toda a cultura da empresa é de alta pressão para os resultados. Não é coerente! As pessoas percebem que é artificial e que não se procura genuinamente o seu bem-estar. As pessoas não querem ser números. Querem ser pessoas. O que depois não se traduz em resultados práticos. As empresas devem começar internamente. Perceber que tipo de ambiente e clima de trabalho existe, quais os riscos a que as pessoas estão sujeitas, quais são os seus interesses, e a partir dessa informação estruturar uma estratégia de melhoria que vá ao encontro das várias necessidades. Ou seja, é através da cultura e da incorporação de valores de felicidade e bem-estar nos processos, na comunicação, na interação social que se conseguem as mudanças transformacionais que potenciam as pessoas.
Por Rita Saldanha