Ser atleta profissional não é um caminho suave e este objetivo requer uma disciplina do tamanho do sonho de quem o ambiciona. Em países como Cabo Verde é preciso sonhar mais alto, pois surgem dificuldades redobradas e menos acessibilidade, mas nada pode cortar as asas de quem está destinado a voar.
A ‘Conversa Olímpica’ trouxe as histórias de David de Pina, único medalhista olímpico cabo-verdiano, Joel Almeida, Fundador e Jogador de Basquetebol da equipa Kriol Star e Isménia Frederico, Atleta Olímpica Velocista, com a moderação de Soraia de Deus, Diretora de Conteúdos ACI. Estes atletas são a personificação de um sonho, cabo-verdianos que escolheram sonhar sem garantias, numa atividade muitas vezes ingrata.
Este momento encerrou a Leadership Summit Cabo Verde, na Cidade da Praia, no dia 23 de maio.
Para ser líder no desporto, há que ter ambição
Isménia Frederico abriu as portas ao olimpismo em Cabo Verde, quando participou nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, EUA. Começou o seu percurso desportivo no karaté, mas foi o atletismo que a levou mais longe, representando o país numa competição mundial pela primeira vez e posteriormente nos Jogos.
A sua jornada fez-se por força de vontade e resiliência, uma vez que, além das dificuldades sentidas por qualquer atleta profissional, não existia sequer uma pista de tartan em Cabo Verde onde pudesse treinar. Como tal, passou muito tempo a treinar fora do seu país, no Benfica, em Lisboa, por exemplo.
«Os Jogos de Atlanta foram um dos maiores porque se assinalaram os 100 anos do olimpismo da Era Moderno. Teve um impacto enorme», explicou.

Já David de Pina, nascido noutra geração, enfrentou estes e outros obstáculos de um caminho que se faz devagar. «A vitória começa no ginásio, nas escolhas que fazemos diariamente. Quando eu ganho, as pessoas só veem aquele resultado, mas eu já ganhei quando acordei às seis para treinar, quando não saí à noite e tive que descansar, quando eu fiz as escolhas que me levariam àquele lugar.», diz o pugilista, que trouxe para casa o bronze no boxe, na categoria até aos 51kg.
O resultado final é consequência do que fazemos diariamente
O caminho do desporto constrói-se com consistência, ao dar o melhor todos os dias, não apenas em certas ocasiões. «Somos atletas quase 24 horas por dia. No descanso somos atleta, a comer somos atleta, a dormir somos atletas. É um caminho de muito sacrifício, com um sonho e objetivo por trás. Se nós temos um porquê, vamos sempre encontrar um como», explica.

Sonhar em grande, num país pequeno
Joel Almeida também encontrou sonhos à sua altura no basquetebol, que exigiram «decisões diárias e disciplina». «Se queres atingir um patamar alto, tens de fazer as coisas de forma diferente. Para ser bom, às vezes é aborrecido», revela, referindo-se à rotina e sacrifícios constantes. Esse foco excessivo também pode ser desgastante para a saúde mental dos atletas, pelo que o equilíbrio é tudo.

Também Isménia pôde sonhar alto teve oportunidade de ficar a treinar permanentemente em Lisboa, pois, na verdade, nunca viu ser atleta de competição no seu horizonte. «Eu sempre gostei de praticar desporto, apenas isso», esclarece.
Pequeno em estatura, mas grande em sonhos era David, que conta como sofreu de alguns episódios de bullying e brigas da juventude. Foi no boxe que encontrou a autodefesa, mas também disciplina e respeito, afirmando que «nunca mais brigou» fora do ringue. «O desporto deu-me a oportunidade de ser grande», explica.
Ainda assim, nem todos se sagram vencedores nesta longa jornada e, «apesar de não faltar talento em Cabo Verde, falta saber explorar e liderar». Para Joel, que pratica um desporto coletivo, a liderança acaba por ser mais visível dentro das quatro linhas, mas deve ser «o galvanizador e a inspiração para todos serem a sua melhor versão».
«O papel do capitão ou da liderança faz com que os jogadores consigam espelhar este exemplo, dentro do campo e fora do campo», diz.
É a sonhar que se cumpre o sonho e, com as ferramentas certas, não há ambição demasiado pequena. Os três desportistas partilharam as suas histórias e deixaram o repto: nunca desistir e ansiar por mais apoios, para levar o desporto de Cabo Verde ainda mais longe.
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