Esta foi uma de entre tantas frases com que António Saraiva brindou uma sala plena de familiares, amigos, ex presidentes de república, ministros e membros do conselho de estado, antigos e atuais líderes de empresas e organizações.
O momento aconteceu esta segunda-feira, em Lisboa, a propósito da apresentação do livro António Saraiva, Um Certo Perfil, no Palácio da Rocha do Conde d’Óbidos, sede da Cruz Vermelha Portuguesa, organização que preside desde 2023.
Num ambiente de cordialidade, amizade e calor humano, foram várias as palavras, entre adjetivos e elogios endereçados ao eterno ‘patrão dos patrões’, que nesse dia colocou a sua gratidão nos outros e sobretudo na sua mulher, Maria Ana Saraiva e a família, os dois filhos e os cinco netos. Mas deixou um agradecimento coletivo: «Vocês são aquilo que eu sou hoje».
A apresentação do livro contou com a participação do autor Pedro T. Neves, Manuel S. Fonseca, administrador e editor da Guerra e Paz e de Fernando Ferreira Santo, ex secretário de estado da Administração Patrimonial e Equipamento do Ministério da Justiça e anterior bastonário da Ordem dos Engenheiros.
A constante lição de vida de António Saraiva
A palavra ‘humildade’ foi ouvida e repetida por várias vezes, não só pelo próprio biografado, como pelos restantes oradores enquanto dirigiam as suas palavras a respeito da obra e vida de António Saraiva.
«Não podemos exigir dos outros aquilo que eles não têm para nos dar, o erro de avaliação é nosso. Mas devemos entregar tudo o que temos».
O líder da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) durante 13 anos, foi nomeado pelo Governo para Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), função que hoje descreve como um ‘desafio’ por estar entre um momento de conflitos mundiais e desigualdades sociais.
«Aprendi na Cruz Vermelha a darmos ao outro um pouco de nós, na ajuda e nesse pequeno gesto – nem sempre monetário, ou material, uma palavra, um carinho – é darmo-nos, entregarmo-nos, neste humanismo intrínseco ao ser humano», numa atitude de lealdade cívica, ética e responsável, conclui.
«Temos cada um de nós, em sociedade, de fazer o seu papel e dar um pouco de nós, de forma a tornar o mundo um pouco melhor e aprender com os outros o que sabem», afirma e reforça com a «viagem que devemos fazer até ao outro – numa ponte».
Para este homem nascido nos anos 50 no Alentejo profundo e pobre, é «do somatório dos saberes e da entrega à sociedade desse somatório que construímos uma sociedade melhor».
«Que nenhum de nós se acomode e eu não me tenho acomodado»
Esse espírito lutador e vontade de vencer fizeram contar esta história, que nas palavras de Manuel S. Fonseca, se transformou numa «biografia cheia de vida e de aventura».
«Há uma seriedade, uma tolerância, uma firmeza em António Saraiva que não só formam um certo perfil, como o perfil certo», reitera Manuel S. Fonseca.
Fernando Ferreira Santo, referiu o «homem bom, de bem com a vida» e apresentou uma possível ‘formula de sucesso’ para o perfil de António Saraiva com base em quatro dimensões descritas no livro.
«Os seus valores, aos quais foi fiel, as competências e qualidades reconhecidas, a capacidade de consciência e tomada de opções, por vezes difíceis e a sorte ou azar do destino».
Fernando Santo, refere-se a António Saraiva como um homem que teve a «visão de ter estado do lado certo da História» e de ter vivido cada vida de forma intensa, como se fosse única.
A história de um homem ligada à de um país
Pedro T. Neves, biografo do livro, descreve António Saraiva como «um homem do presente voltado para o futuro».
«Guarda nele a consciência muito viva das suas origens e memória do seu passado, das condições sociais de que emergiu», referindo-se às raízes alentejanas, na vila de Ervidel, numa época de pobreza e escassez, onde vir para Lisboa seria tentar a sorte de uma vida melhor.
«Um homem e um destino intrinsecamente ligados à História de um país e a uma geografia política coletivas. Não lhe foi fácil ganhar mundo», refere.
Mas terá sido graças à sua personalidade que foi possível, neste dia, estar a apresentar a sua história de vida, que é uma história de sucesso. Da partilha da escrita e da relação com António Saraiva, o autor realça a capacidade de ouvir e de se relacionar, e a humildade, «nunca escondendo um pingo das suas emoções».
Nos momentos finais deste encontro, António Saraiva dirige-se à assistência, descrevendo-se como um homem com uma «atitude cívica e permanente defesa de causas».
«Sou filho de um tempo de dificuldades, sou um amigo solidário».
Alguns amigos dos primeiros tempos de Lisboa, quando veio com seis anos, estavam presentes naquela sala. Quanto ao seu percurso, refere a Lisnave como a «primeira Universidade», onde entrou com 17 anos e ficou durante 26 anos, assumindo a liderança da comissão de trabalhadores.
Refere-se aos tempos da Lisnave como uma «escola de vida, de amizades e de valores», com muitos dos nomes dessa época presentes nesse dia – «está aqui a minha Lisnave».
Depois entrou para a CIP, onde esteve durante 19 anos, 13 dos quais como Presidente. Esses foram tempos de aprendizagens e transformações – de algum «drama social», entre guerras, crises económicas e a pandemia. Desafios, que na sua perspetiva exigem «lideranças éticas, sérias, à altura destas circunstâncias».
«Ao longo do tempo, os meus amigos e aqueles com quem tenho partilhado esta vida, sempre acharam que eu tinha o perfil certo, para os lugares e cargos que desempenhei. Mas aquilo com que sempre me preocupei foi em honrar os valores e os princípios dos meus pais: lealdade, ética , responsabilidade e a sensibilidade ética que não nos pode abandonar», conclui.