O custo de vida no Egito está a aumentar drasticamente. Líderes de empresas estão a enfrentar problemas nas cadeias de abastecimento causados pela escassez de uma moeda forte, que deixou mil milhões de dólares em mercadorias parados nos portos.
O The Economist faz um ponto de situação à economia em queda do Egito.
A dívida não é um bom negócio
As últimas semanas trouxeram ao de cima as consequências da economia insustentável do Egito. Desde 2013, quando Abdel-Fattah al-Sisi tomou o poder através de um golpe de Estado, o governo tem sido caracterizado por um setor privado moribundo, grandes défices e gastos estatais alimentados por dívidas em projetos de infraestrutura, alguns de valor duvidoso.
O Egito teve um crescimento decente, mas a verdade era outra: para a maioria dos seus 104 milhões de habitantes, a vida piorava cada vez mais. O ano passado, o défice fiscal foi de 6,2% do PIB, e o défice em conta corrente de 3,6%.
A relação dívida pública/PIB ronda os 90%, enquanto a dívida externa mais que duplicou desde 2013, para 34%. O serviço da dívida consome 45% da receita do governo.
Os economistas egípcios alertam há anos que o país está a cair na armadilha da dívida. Sisi ignorou-os, e os investidores estrangeiros, atraídos por algumas das taxas de juros mais altas do mundo, estavam ansiosos para ajudá-lo a manter a sua ilusão.
Comprar a dívida egípcia a curto prazo parecia uma proposta lucrativa e sem riscos: certamente o maior país árabe seria grande demais para falir. O fracasso ainda é improvável, mas já não é impossível.
A libra egípcia é a moeda com pior desempenho do mundo este ano, o que alimenta uma inflação galopante. O aumento das taxas de juros refletir-se-á no setor privado.
O setor público, um dos principais impulsionadores do recente crescimento, está a ser forçado a parar. Depois de anos de políticas a curto prazo, não há soluções fáceis para os problemas do Egito.
Pela Ucrânia abaixo
O crash começou com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o que fez com que os investidores retirassem 22 mil milhões de dólares em investimento no Egito numa questão de meses, o que piorou a falta de uma moeda forte.
O governo restringiu as importações para reduzir o défice comercial e voltou ao FMI para pedir outro empréstimo, o quarto desde 2016.
Em junho, Muhammad Maait, Ministro das Finanças, afirmou que o país precisava de se concentrar em ter investimento estrangeiro menos inconstante, e aumentar as exportações.
No entanto, em dezembro, o governo anunciou que mercadorias no valor de 9,5 mil milhões de dólares estavam retidos nos portos: as empresas não conseguiam ter o dinheiro que precisavam para desembarcar. Surgiu um mercado negro de moedas, com libra egípcia a ser negociadas muito abaixo da taxa oficial.
Os egípcios no estrangeiro, no Natal, receberam mensagens dos seus bancos a impor limites de levantamento de até 100 dólares por mês.
Em queda libra
A libra egípcia já tinha sido desvalorizada duas vezes em 2022. A 5 de janeiro voltou a cair, fixando-se a cerca de 30 libras por dólar, uma queda de 20%. Perdeu 50% do seu valor no ano passado.
Esta desvalorização trouxe centenas de milhões de dólares em receita, o que ajudou a aliviar o acúmulo de importações. Mas também alimentará a já alta inflação, que atingiu 21% em dezembro (e 37% para alimentos).
Os números de janeiro vão piorar. Após a primeira grande desvalorização do Egito, em 2016, a inflação ficou acima de 20% por 13 meses.