Porque trabalhamos? O que fazemos? E como o fazemos? Com estas três perguntas, Cláudia Lourenço, General Manager da Procter & Gamble, e Maria Paula Monroy, Chief Risk Officer da Zurich Portugal, deram o mote para um diálogo aberto e inspirador, onde partilharam as suas trajetórias profissionais e pessoais, questionando o significado do trabalho e as escolhas que moldam uma carreira.
A conversa ‘O que queria ser quando fosse grande?’ fez parte do programa da Grande Conferência Liderança Feminina, da Executiva, que aconteceu na passada semana, e que a partir de uma pergunta aparentemente simples, ambas transformaram num exercício de reflexão sobre propósito, motivação e legado.
Maria Paula Monroy começa por recordar que, em criança, quis ser professora, depois astronauta, e mais tarde sonhou em trabalhar em Nova Iorque, numa grande instituição financeira. A vida, contudo, levou-a por outro caminho: “Acabei por trabalhar na área de gestão de riscos, numa seguradora. Entrei na Zurich no Brasil, voltei para a Colômbia, o meu país, e mais recentemente aceitei o desafio de vir para Portugal.”
Cláudia Lourenço, por sua vez, confessa que a famosa pergunta — «O que queres ser quando fores grande?» — sempre lhe suscitou mais dúvidas do que respostas. «A pergunta devia ser reformulada», afirma. «Na realidade, uma coisa é fazer e outra coisa é ser.» A executiva defende que todas as profissões têm valor, mas que o essencial é perceber o que nos move. Conta, inclusive, que foi o seu filho, aos três anos, quem lhe colocou a questão mais desafiadora: «Mãe, porque é que tu trabalhas?» — uma pergunta que a levou a refletir sobre o verdadeiro propósito do trabalho.

O porquê: o sentido que nos guia
Para Maria Paula Monroy, o ‘porquê’ é uma questão que ganha peso com o tempo. No início da carreira, admite, não pensava muito nisso. «À medida que a carreira avança, o porquê torna-se mais relevante. Faz diferença nas escolhas e ajuda a alinhar decisões com aquilo que nos motiva.» A executiva explica que esse ‘porquê’ não é estático — pode mudar conforme as fases da vida. «Pode ser crescimento pessoal, realização ou o contributo que deixamos através do nosso trabalho. O importante é garantir que o porquê está alinhado com as decisões que tomamos.»
Cláudia Lourenço partilha uma visão complementar: «Gosto de trabalhar porque o trabalho se alinha com os valores que tenho e permite transformá-los em ações concretas.» Trabalhar é uma forma de contribuir para a sociedade e de viver em comunidade. «É um contributo que vai além do voluntariado ou da maternidade — é também profissional, um contributo para que o mundo continue a girar de forma positiva e construtiva.» Além disso, confessa que aprecia o convívio e a partilha: «Gosto de estar com pessoas, de aprender, de conversar, de criar. E a minha cabeça precisa de estar ocupada.»
O que fazemos: escolhas e caminhos
Questionadas sobre as escolhas profissionais, ambas rejeitaram a ideia de uma fórmula universal. Maria Paula Monroy destaca dois critérios que sempre orientaram o seu percurso: o contexto de trabalho e a abertura ao mundo. «O contexto influencia muito o nosso desenvolvimento de carreira. O local onde passamos tantas horas por dia deve estar alinhado com o que somos.» Além disso, refere a importância de ter vivido em diferentes países — Brasil, Colômbia e Portugal — experiências que considera fundamentais para o seu crescimento pessoal e profissional.
Cláudia Lourenço, por outro lado, explica que o seu ponto de partida é sempre a empresa, não o cargo. «Primeiro escolho o sítio onde posso ativar o meu ‘porquê’. E isso tem sido decisivo.» Partilha o exemplo do projeto Inspiring Girls, uma parceria entre a P&G e uma associação dedicada à autoestima de adolescentes. «As meninas entre os 10 e os 14 anos perdem cerca de 30% da sua confiança. Este projeto quer inspirá-las antes mesmo de chegarem à fase adulta.» O clube de autoestima que estão a lançar inclui módulos sobre sonhos, valores, resiliência e confiança — uma iniciativa que concretiza o propósito de «fazer a diferença» ainda antes de chegar ao mundo do trabalho.
«Não ligo muito a cargos nem a títulos», afirma. «O que me importa são os desafios — e costumo escolher os que são menos óbvios.»
O como: a forma de trilhar o caminho
Sobre a forma de conduzir as suas carreiras, Maria Paula Monroy foi clara ao afirmar que não existe uma receita única. «Cada um tem o seu processo, não há fórmulas mágicas.» Ainda assim, partilha três pilares que considera fundamentais: autoconhecimento, aprendizagem contínua e relações humanas. «O autoconhecimento é essencial — saber os nossos pontos fortes e os que devemos desenvolver. Depois, vem a curiosidade de continuar a aprender, de querer fazer diferente. E, por fim, as pessoas: a equipa, os mentores e a rede de contactos que nos apoiam e desafiam.»
Cláudia Lourenço resumiu o seu ‘como’ em duas ideias simples: possibilismo e diálogo. «Sou muito possibilista. Podemos inventar muitas formas de fazer as coisas e ultrapassar obstáculos.» A segunda chave, acrescentou, é a comunicação. «Temos muitas conversas dentro da nossa cabeça, mas ninguém adivinha o que estamos a pensar. É fundamental conversar sobre o que é importante para nós, alinhar expectativas e perceber se há espaço para concretizar o que desejamos.»
Para a executiva, o sucesso profissional constrói-se «de mãos dadas». E deixou um desafio à audiência: «Quando planificarem a vossa carreira, pensem no que vão dar, e não apenas no que vão receber. Perguntem-se também o que querem ser quando forem ‘mais grandes’, ou seja, quando este capítulo tão ativo da vida terminar.»



