Diz-se que uma imagem vale por mil palavras. A foto de Putin e Xi na Cimeira para a Cooperação de Xangai vale por mil vezes mil palavras. Não se trata de uma foto inocente, mas de uma imagem poderosa: os dois homens, que nas vésperas da guerra fizeram juras de uma amizade sem limites, pretendem mostrar que existe uma alternativa política ao Ocidente: o bloco sino-russo.
A imagem tem o mérito da transparência: sabemos o que a oferta contém: uma ordem baseada na autoridade unipessoal de um homem forte – e sim têm sido sempre homens – que prometem proteger uma civilização e os valores que a sustentam contra o seu inimigo decadente e pecaminoso, ou seja, nós os ocidentais. Se para isso for preciso destruir e matar, então os meios justificam os fins.
Esta imagem ilustra também a reemergência do poder duro, segundo a designação de Joseph Nye. De acordo com este académico, o poder duro é o poder da coerção – da guerra, da ameaça, da destruição, da ordem forçada. Opõe-se ao poder macio (soft) – da atração, da liberdade, do desenvolvimento. Se a perda de poder macio dos EUA foi uma realidade – nomeadamente durante os anos Trump – é possível que esta imagem tenha mostrado qual a alternativa ao modelo ocidental: um mundo governado por ditadores imperialistas que alguns “compreendem” em nome da paz. Por muito críticos que possamos ser do Ocidente, esta alternativa não promete nada de bom. Por mim, agradeço mas digo “Não, obrigado”.