Em 2035 a União Europeia vai proibir a venda de qualquer automóvel com motor de combustão interna, nomeadamente carros a gasolina e gasóleo. Com a necessidade urgente de acelerar a transição verde e tecnológica, o relatório “Conduzir a Mudança – o futuro do trabalho no setor automóvel português”, elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), lança a reflexão e definição de programas de ação para a indústria automóvel, e não só.
Em Portugal, o referido setor dá emprego direto a 44 mil pessoas e representa mais de 5% do PIB, com 81% em exportações, apesar da significativa perda de valor pela elevada importação de componentes. É, também, uma realidade laboral que reflete um ambiente instável e de baixos salários.
O setor da mobilidade está em transformação e é hoje “um cluster de atividades industriais absolutamente centrais na nossa estrutura”, conforme referiu João Neves, Secretário de Estado da Economia, durante a sessão de apresentação do documento, em Lisboa. Para o responsável, este estudo surge num tempo importante de aceleração de transformação do setor e de reconfiguração dos modelos económicos. As alterações das fontes de energia e a urgência da descarbonização “impõem um ritmo e um sentido no processo de mudança da mobilidade nas sociedades.” João Neves chamou ainda a atenção para o PRR onde vai existir “um conjunto muito significativo de medidas especificamente orientadas para o domínio da mobilidade de natureza elétrica, que vão ser decididas e contratualizadas nos próximos dias, ainda antes do verão.”
Quanto às competências e skills específicas do setor, o Secretário de Estado destaca “os vários saberes fazeres que são distintos pelo país com características próprias e em vários domínios, em que Portugal é um exemplo nas capacidades de engenharia de produto, nomeadamente na zona norte, sendo uma prova daquilo que temos para oferecer para o mundo”.
A propósito do valor humano e capital social do setor automóvel, Manuel Carvalho da Silva, coordenador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (CoLABOR), entidade que integrou a equipa de investigação da OIT, identificou a fragilidade dos baixos salários e a necessidade de novas qualificações. Isto para permitir que Portugal responda de forma adequada à transição verde que “pode transformar o setor por via do valor acrescentado ou conduzir a uma deslocação de produção para outras geografias.”
A importância do diálogo social, e da relação entre empregadores e os trabalhadores, é por demais identificada como a chave para que o setor automóvel em Portugal responda aos desafios colocados a breve trecho. Ana Mendes Godinho Ministra Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, referiu nas notas de encerramento da sessão serem estes “desafios replicáveis para todos os setores” e que o estudo representa “um importante passo para foco e mobilização conjunta”. Nomeadamente em áreas como a inovação da indústria, promoção e valorização dos trabalhadores, novas formas de trabalho e de conciliação com a vida pessoal.
Há ainda um desafio identificado pela Ministra que é da capacidade de reter os jovens na indústria automóvel para além da “necessidade de garantir formação e qualificação capaz de se adaptar à velocidade rápida” e ao longo da vida. Para tal realçou “o investimento do PRR em 1500 milhões de euros para qualificações e formação” e a necessidade de uma “posição coletiva para encontrar soluções à medida”. Reforçou ainda que é “urgente agirmos sob pena perder esta corrida que todos queremos ganhar.”
Por Rita Saldanha