No âmbito do projeto Ecossistemas dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (EATS) para avaliar as condições de saúde e estilos de vida dos profissionais e de que forma as organizações são ecossistemas promotores da saúde e bem-estar, esta semana na rubrica da Líder Healthy Workplaces contamos com o contributo do Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco Miranda Rodrigues.
Todas as semanas, uma organização, das mais de 40 que integram o projeto, partilha reflexões e práticas de ambientes de trabalho saudáveis em diferentes setores e atividades.
A promoção do bem-estar e prevenção dos riscos psicossociais no trabalho são aspetos que ganham relevância o nível internacional e nacional. Campanhas e ações de sensibilização e de capacitação de organizações e trabalhadores, assim como o diagnóstico e monitorização de medidas de melhoria são uma aposta da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) e da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Esta semana contamos com a partilha e experiência do Bastonário Francisco Miranda Rodrigues sobre o papel da Psicologia e dos Psicólogos no âmbito da promoção e desenvolvimento de locais de trabalho saudáveis.
“Muito pouco se falava em prevenção do stress e de outros problemas psicológicos nos locais de trabalho ou mesmo de prevenção dos riscos psicossociais quando a Ordem dos Psicólogos, em 2014, deu alguns passos importantes, como se pode ler em notícia da altura em www.ordemdospsicologos.pt “(…) a OPP participará ativamente em Portugal na Campanha Healthy Workplaces Manage Stress, desenvolvida pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA). (…) irá desenvolver diversas ações, que vão desde a organização de Conferências, Simpósios e Workshops sobre os tópicos da campanha, à organização de ações de formação e criação de um prémio para as empresas que se destaquem pelas boas práticas e inovação na prevenção do stress e dos riscos psicossociais no trabalho. (…)
De salientar ainda que esta campanha está a decorrer em mais de 30 países europeus e visa, segundo a EU-OSHA:
- Incentivar empregadores, gestores e colaboradores a trabalharem conjuntamente para gerir os riscos psicossociais e o stress no local de trabalho;
- Sensibilizar para o problema crescente do stress e dos riscos psicossociais relacionados com o trabalho;
- Proporcionar e promover a utilização de ferramentas práticas e orientações com vista à gestão dos riscos psicossociais no trabalho;
- Destacar os efeitos positivos da gestão de riscos psicossociais no trabalho, incluindo a sua importância para o desempenho das empresas.”
Sete anos passados, o que mudou?
Se é verdade que numa iniciativa da OPP, em 2018, vários parceiros sociais se juntaram à mesma mesa para afirmar o seu compromisso e preocupação com a importância de locais de trabalho saudáveis e da prevenção de riscos psicossociais (UGT, CGTP, CIP e CCSP), ainda muitos receios subsistem de parte a parte (ou subsistiam até à pandemia). Pelo lado dos trabalhadores, a preocupação com a informação recolhida e sobre o uso que poderá ser feito dela, pelo outro lado, o receio que estejamos perante custos que a maior parte do tecido empresarial português não consiga fazer face, dada a sua muito reduzida dimensão (a oficina de reparações, o café, o pequeno pronto-a-vestir). Neste momento, são muitas mais as avaliações de risco realizadas do que até então, em crescimento muito acelerado, não só por ação da ACT, mas porque as organizações têm vindo a incorporar esta necessidade e estão hoje mais conscientes do impacto dos problemas psicológicos para a sua sustentabilidade.
Hoje, para além do desafio da generalização destas avaliações, muito facilitadas pelas tecnologias, está em garantirmos que as mesmas são feitas por profissionais competentes e ética e deontologicamente responsáveis. A jusante, desta preocupação está o que se faz com estas avaliações. E aí, os problemas são maiores. A baixa literacia dos empresários portugueses (que não se dissociam da população portuguesa) não ajuda. Daqui decorre uma incapacidade de distinção entre o que faz e deve fazer cada um dos profissionais (muitas vezes pensando que o médico faz tudo e que este trabalho está dentro da medicina do trabalho) como pensando que qualquer um o faz, desde tenha alguma “sensibilidade para as pessoas”. Por outro lado, pensa-se nisto apenas vendo o mais superficial, a doença que aparece ou a necessidade de apoiar o acesso a atividades vistas como promotoras da saúde, como o acesso a ginásios, à meditação, ou convívios. Nada contra. Mas estas ações não são uma resposta efetiva para as mudanças, na maior parte das vezes necessárias, para que a organização consiga prevenir o aparecimento destes problemas psicológicos ou reduzir o impacto de vários riscos psicossociais.
Os psicólogos, nomeadamente os do trabalho e das organizações, estudam e intervêm há muito tempo em contexto organizacional, de modo a melhorar o seu desempenho e das pessoas que nelas trabalham, com o equilíbrio indispensável com o seu bem-estar. Mudanças culturais, desenvolvimentos organizacionais, apoio às lideranças e ao desenvolvimento das suas competências, em alinhamento com a estratégia e objetivos pretendidos, tentando vincular os talentos à organização. Este é um trabalho com impacto na saúde das pessoas, na produtividade e por isso na sustentabilidade das organizações. Não tem fórmulas mágicas, é desenhado à medida, tem evidência científica e é estratégico para a sobrevivência e competitividade das nossas empresas e da nossa economia.
Para isso, ao longo destes anos, advogamos por mais investimento nesta área (o custo já as organizações o têm hoje por nada fazerem), por certas decisões políticas que impulsionem as medidas necessárias e as apoiem, bem como reconhecemos boas práticas, desenvolvemos competências dos psicólogos para intervir cada vez melhor neste contexto, para além de promovermos mais literacia junto dos decisores das organizações e dos trabalhadores em geral.
O site www.maisprodutividade.org é uma enorme fonte de recursos práticos para todos os envolvidos e uma ferramenta para a orientar a implementação das melhores práticas. Os psicólogos são uma nova tendência nas organizações, promovendo esse ativo central que são as pessoas, aliados da sustentabilidade das organizações. Conheça melhor o seu papel distinto e diferenciado e o seu valor acrescentado. Não fique para trás. Já está a acontecer…”