À medida que a população envelhece e há um maior número de reformas, a disrupção tecnológica e a ascensão da IA continuam, o que traz para as empresas perda de talento especializado, desaparecimento de funções e surgimento de novas profissões. Que desafios existem à gestão das empresas, ao sentido de proteção dos trabalhadores e garantia de uma segurança social? O que pode significar daqui a 10 anos uma profissão ou um trabalho? Será o trabalho o que nos vai tornar seres humanos intrinsecamente digitais?
Ana Mendes Godinho e Pedro Mota Soares, ambos ex-Ministros do Trabalho e da Solidariedade Social, procuram respostas para estas e outras questões sobre o estado das atuais políticas do trabalho e traçaram os caminhos para o futuro do mundo laboral em Portugal.
A conversa ‘Políticas Laborais: Estado da Arte e Rotas de Futuro’ aconteceu no âmbito da Leading People International HR Conference, que teve lugar no dia 13 de março, no Centro Cultural de Cascais. Este momento contou com a moderação de Paulo Ferreira, jornalista da Rádio Observador.

Para Ana Mendes Godinho, «o talento deve ser o bem mais disputado do mundo» e, nesta corrida, «o grande desafio é conseguir fixar as pessoas». Para tal, bons salários, qualidade de vida e um sentido de propósito na sociedade devem ser fatores-chave.
Segundo a deputada, «nos próximos cinco anos, cerca de 30% do mundo laboral vai precisar mesmo de uma reconversão laboral ou requalificação profissional», «mas as soft skills mantêm-se como uma prioridade». «Este comboio passa depressa e é preciso apanhá-lo», reforça.
É um tempo de uma exigência brutal em que é necessária uma grande parceria do setor público-privado.
Pedro Mota Soares acrescenta que «há medo e receio por parte das pessoas pela dimensão fatalista de que não vai haver trabalho para todos», pelo «conjunto de tecnologias que tem impactado tremendamente o futuro do trabalho». Ao longo dos séculos, já houve várias mudanças no mundo laboral e previsões para o que podia vir a mudar, que «têm falhado redondamente». «Ao longo da vida vamos ter de nos requalificar várias vezes», acrescenta.
Políticas públicas devem impulsionar a mudança e defender trabalhadores
Aquando das políticas públicas, Mota Soares garante que «governar é compreender», pelo que é essencial que os decisores estejam a par das tendências. Isto inclui a dimensão do teletrabalho, uma das maiores alterações, bem como a área do ensino e formação. Para Ana Mendes Godinho, «as políticas públicas devem agir como motores de ignição».
A deputada do Partido Socialista acredita que o trabalho deve ser flexível tendo em conta os novos modelos, sem descurar a relação empregador – trabalhador, à partida desigual. Deve haver uma proteção dos direitos dos trabalhadores e lutar para que conquistem ainda mais benefícios.
Ainda assim, a questão económica é fulcral. «Tem de haver uma melhor distribuição da riqueza, é evidente. Se não o conseguirmos, teremos tensões sociais e fragmentação. A valorização dos salários é crítica, bem como uma participação ativa dos trabalhadores, de forma mais direta e permanente, na gestão das empresas», declara.
Desde o pós-pandemia que «o tempo ganhou um novo valor na vida das pessoas», fazendo do bem-estar um pilar cada vez mais importante. «O tempo é, neste momento, o bem mais escasso do mundo», afirma.
O Estado deve sair do seu mausoléu, adquirir estas soft skills para construir programas e ser o motor para iniciativas como a semana de quatro dias. Executar e ter coragem!
Para Pedro Mota Soares, a questão é como é que «o Estado, empresas e própria economia, puxem pelos talentos das pessoas», de forma a capacitar cada um o melhor possível. Por outro lado, a regulação que por norma advém destas tentativas está «a asfixiar particularmente a Europa». «O nosso Código de Trabalho é feito para as grandes empresas. Muito pouco flexível relativamente a pequenas e médias empresas», acrescenta.
O ex-Ministro refere ainda que a questão mais importante é não deixar que os trabalhadores fiquem para trás, a par do que está a acontecer com a economia da Europa. «Este deve ser um convite não ao derrotismo, mas à ação, para que possamos fazer coisas acontecerem e rapidamente», remata.
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