Ano após ano passo uns dias de agosto no concelho de Vila Real de Santo António. E ano após ano concluo que ainda há, no Algarve, pedaços daquela região com vestígios do Paraíso. E ano após ano me confronto com um mistério, chamemos-lhe o mistério da recolha de lixo.
Eis o cerne do mistério: nas duas semanas de férias, a recolha de lixo nos ecopontos é tão esporádica que inevitavelmente o lixo se amontoa à volta dos pontos de recolha. Os plásticos deixados à volta dos mesmos voam por todo o lado e a rua, nas imediações, fica repleta de resíduos. O lado terceiro-mundista da coisa é evidente, como é evidente a incapacidade de resolver um problema que se repete uma vez após outra.
Eis uma das razões para, como País, não sairmos da cepa torta: se um problema rotineiro e previsível não tem resolução, como podemos almejar chegar à Europa que se organiza para produzir com qualidade? O que nos impede de resolver problemas tão básicos como este? Será que estamos condenados a conviver com um lado de república portuguesa das bananas? Tratar-se-á de um fado?
Por Miguel Pina e Cunha, diretor da revista Líder