O relatório “Estado da Nação 2022” sobre Educação, Emprego e Competências em Portugal, apresentado ontem, revela que os salários dos portugueses com o ensino superior caíram 11%. Para os mais jovens a situação foi semelhante, com quedas do salário ainda mais acentuadas no ensino superior.
O documento elaborado pela Fundação José Neves (FJN), com a Universidade do Minho e Universidade de Aveiro, revela também que Portugal é um dos países da UE com os rendimentos mais baixos. Segundo destacou Carlos Oliveira, Presidente Executivo da FJN, durante a apresentação do documento, “somos o oitavo país da União Europeia, em média, com os salários mais baixos”, entre os 27, Portugal está em 20º lugar.
Em 2020, o rendimento médio dos trabalhadores portugueses com educação superior era menor do que o dos trabalhadores com o ensino secundário em 12 países da UE (Itália, Irlanda, Finlândia, França, Malta, Bélgica, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Luxemburgo) e do que os trabalhadores menos qualificados em 4 países da UE (Finlândia, Holanda, Dinamarca e Luxemburgo).
O documento revela ainda que entre 2011 e 2019 o salário médio dos portugueses aumentou apenas para os trabalhadores com o ensino básico, na ordem dos 5%, muito por força do aumento do salário mínimo por decreto-lei e por via da negociação coletiva.
Os retornos financeiros/ salariais da educação, a relação entre educação e produtividade e a forma como esta afeta o desenvolvimento do país, foram os temas destacados por Carlos Oliveira. Mais educação beneficia todas as dimensões da pessoa e da sociedade, e mais qualificações trazem crescimento, sendo para isso “fundamental que o país desenvolva incentivos adequados para que as pessoas apostem em educação”, afirma o executivo.
Nas suas palavras “não se pode passar a mensagem errada de que a educação não compensa”, ou seja, a diminuição na aposta em educação tem de ser evitada a todo o custo. Mais educação continua a garantir salários mais elevados, mas o diferencial tem diminuído. Contudo, Carlos Oliveira reforça a ideia de que “nunca é tarde para aprender, aliás, cada vez é menos tarde”.
Apesar do salário médio em 2019 ser menor do que o de 2011 na maioria dos níveis de escolaridade, os ganhos salariais dos portugueses mais qualificados face aos menos qualificados são consideráveis. Em 2019 uma licenciatura resultava, em média, num ganho salarial de 50% face ao ensino secundário. Já com o mestrado esse ganho ascende aos 59%. Os prémios salariais também se verificam nos jovens adultos (dos 25 aos 34 anos) e são os mestrados que conferem um retorno salarial superior, com ganhos de 43% face ao ensino secundário e de 15% face às licenciaturas.
Um nível superior de educação aumenta a probabilidade de estar empregado e de chegar aos dois níveis mais elevados de rendimento. Face a quem tem no máximo o ensino secundário, os que têm o ensino superior têm uma probabilidade 16% superior de estarem empregados e 50% superior de estarem entre os 40% da população com maior rendimento. Os mesmos valores para a comparação entre ensino secundário e ensino básico são 10% e 29% respetivamente.
Quanto à produtividade, são vários os fatores relacionados com as qualificações que contribuem para a produtividade. Empresas com uma força de trabalho mais qualificadas são mais produtivas, mas o ajustamento entre qualificações e profissões também é essencial. O presidente executivo destacou também que cerca de 20% das pessoas empregadas estão sobre qualificadas para o que exige a sua profissão.
Para além disso, Portugal continua a ter a maior percentagem de empregadores que não terminou o ensino secundário. Em 2021, este era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média europeia que se fixou em 16,4%.
A educação e a produtividade são dois desígnios críticos para Portugal que estão interligados. Nesse sentido, a FJN propôs-se a metas até 2040, nomeadamente:
- Portugal nos 10 países da UE com mais emprego em tecnologia e conhecimento (de 2019 para 2021 passou de 19º para 16º);
- Pelo menos 25% dos adultos devem participar em educação e formação ao longo da vida (atualmente está nos 13%);
- Máximo de 15% dos adultos (25 aos 64 anos) com baixa escolaridade (atualmente está nos 40,5%);
- Pelo menos 60% dos jovens adultos com o ensino superior (atualmente está nos 47,5%).
- Pelo menos 90% dos jovens recém-formados com emprego (em 2021, apenas 74,2% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado o ensino secundário ou superior nos últimos 3 anos estavam empregados).