A diferença salarial entre homens e mulheres ainda é uma realidade. Dados da Randstad apontam que as mulheres ganham cerca de 72% do valor do salário dos homens, ao exercer a mesma função. Mantendo-se a tendência, a igualdade salarial apenas será possível daqui a 118 anos. “Equidade salarial” foi o tema do 9º episódio do podcast “Promova Talks”, contando com a participação de Ana Maria Vasconcelos, General Manager da Belcinto, Patrícia Valente, Diretora Corporativa de Recursos Humanos no Grupo ANF (Associação Nacional das Farmácias), Sara Falcão Casaca, Professora e investigadora no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG), sob moderação de Mariana Ludovino.
Baseada nas perspetivas e experiências das participantes, a opinião é unânime de que as desigualdades salariais entre homens e mulheres são complexas e possuem causas multifacetadas. Sara Casaca apresentou o estudo que está a desenvolver no ISEG, “Os benefícios da igualdade salarial entre homens e mulheres”, e realçou que, se a distribuição pelos ramos de atividade não fosse desigual, o diferencial remuneratório diminuiria em cerca de 25%, e em mais de 10% se não houvesse segregação por profissões. “Temos logo aqui o bolo de 35% que tem a ver com esta repartição desigual por ramos de atividade e de setores”, afirmou, relembrando ainda os estereótipos e questões de género que mulheres enfrentam diariamente e, por sua vez, dificultam a sua posição no mercado de trabalho.
Ana Vasconcelos acrescentou que a condição de as mulheres trabalharem há relativamente menos tempo do que os homens, conduz a que muitos lugares não tenham ainda sido conquistados. Para contrariar essa tendência, assumiu ser necessário dignificar as mulheres e reconhecer a sua resiliência no trabalho. “No mercado empresarial, 43% do trabalho é feito por mulheres. Não vou falar em mulheres em cargos de gestão, como é evidente, porque os números vão por aí abaixo”, confessou, deixando claro que as dificuldades são profundas.
Patrícia Valente apontou o facto histórico de a Segunda Guerra Mundial ter inserido muitas mulheres no mundo do trabalho por questões de necessidade, e não por um recurso de competências e qualificações. E nesse âmbito, “entram a ganhar salários 50, 60, 70% inferiores àquilo que eram os praticados pelos homens”, assinalando um pesado legado que hoje ainda persiste apesar das mudanças.
A Diretora Corporativa de RH atestou que na prática, as empresas e as organizações sentem dificuldades em contrariar as estatísticas, dado ao impacto nos custos. “É fácil colocar uma mulher num lugar de gestão se for só uma mobilidade, mas por outro lado não posso colocá-la num lugar de gestão e manter a falta de igualdade no salário”, sendo nesse ponto que deve haver pressão para a mudança e com isso um impacto direto na economia. “As mulheres são grandes, para não dizer as mais relevantes e predominantes, consumidoras da sociedade, portanto, se tiverem salários melhores, vão consumir mais”, explicou, opinião corroborada pelo estudo do ISEG, que indica que, por cada ponto percentual de redução do diferencial remuneratório, o PIB per capita português aumentaria, aproximadamente, 1,4%.
A investigadora do ISEG indicou ainda que as trabalhadoras portuguesas, no ponto de vista de envolvimento no mercado de trabalho, têm um padrão mais próximo das trabalhadoras de países nórdicos. “Temos tido uma taxa de emprego das mulheres que está acima da média da União Europeia. As mulheres estão mais escolarizadas do que os homens”, acrescentando que a maternidade não é tendência de desvinculação do mercado de trabalho. Os números mostram que, em Portugal, a taxa de emprego das mulheres aumenta após a maternidade, juntando-se a países como Croácia, Dinamarca e Suécia. Ana Vasconcelos realçou também a importância da formação “de pessoas que até agora tiveram categorias ou profissões completamente desvalorizadas” como forma de valorizar profissionalmente o seu trabalho.
Numa nota final, as convidadas foram chamadas a deixar uma mensagem às jovens mulheres e à sociedade em geral. Sara Casaca, em continuação ao testemunho de Ana Vasconcelos, reforçou a importância da formação académica e das relações pessoais, e a necessidade de uma visão que integra todos os agentes e decisores, apelando ser um tema que deve ser tópico em todas as áreas.
Ana Vasconcelos disse que ser mulher num mundo de homens, leva a que façam mais e melhor. “Tudo o que fazemos tem de ser sonante. Temos de ser sucintas, mas muito impactantes, e, portanto, as mulheres que venham para este setor têm de vir fazer a diferença”, afirma. Patrícia Valente incentivou as mulheres a não terem receio de desbravar caminhos, a procurar por um trabalho com que se relacionem, a crescer e conquistar um lugar, relembrando a expressão “escolhe um trabalho que gostes e não vais trabalhar um único dia da tua vida.
O “Promova Talks” foi criado no âmbito do Projeto Promova, lançado pela CIP, em parceria com a NOVA SBE. É um podcast produzido pela CIP em parceria com a Randstad, que visa discutir os desafios da igualdade de género e de oportunidades no emprego para as mulheres. O 1.º episódio teve como tema “O recrutamento sem género”, o 2.º “As mulheres no setor da saúde”, o 3º “As mulheres a tecnologia”, o 4.º “Gerações no Feminino, o que muda?”, o 5.º “Work life balance”, o 6º “Por que razão as mulheres avançam lentamente nas carreiras?”, o 7º “Networking no Feminino”, e o 8º “As mulheres na Indústria”.
Por Patrícia Monsanto