O sucesso das organizações está intimamente ligado com a sua cultura, que nada mais é do que os comportamentos e valores que caracterizam uma empresa. No entanto, num país como Portugal, característico por ter empresas e equipas mais pequenas, a cultura organizacional pode mesmo revelar-se um problema.
Pedro Castro e Almeida, Regional Head Europa do Grupo Santander, deixa o alerta: «Quando a cultura é muito forte, vira culto. Numa empresa em que existe culto, todas as pessoas são iguais e tendem a contratar pessoas iguais».
O também CEO do Santander Portugal participou no painel «Como criar uma cultura de valorização do sucesso das pessoas e empresas», a par de Paula Amorim, Presidente da Galp, numa conversa que foi moderada pelo maestro Martim Sousa Tavares.
Este debate aconteceu na Conferência BRP 2024 no dia 3 de julho, na Nova SBE, sob a temática «Portugal: o país onde vais querer estar».
Os passos para uma liderança afinada e no ritmo certo
Pedro Castro e Almeida é caracterizado por Martim Sousa Tavares como um melómano, mas não se considera um maestro das organizações. Ainda assim, faz um grande paralelo entre «gerir e construir uma equipa empresarial e uma orquestra».
Em ambas deve existir diversidade de talento, para que a forma de encontrar soluções e trabalhar seja distinta. O Diretor mencionou as audições cegas que são feitas nas orquestras, para recrutar novos músicos da forma menos enviesada possível. «Esta foi a indústria que, sem necessidade de quotas, mais evoluiu para a paridade», afirma.
Uma boa liderança e a atitude correta para com os desafios são outras semelhanças que encontra entre um conjunto musical e uma empresa.
Ainda relativamente à paridade, as quotas foram o processo que facilitou igualdade de género na Galp. «Trouxe todo um modelo de meritocracia, valorização das pessoas e dinâmica diferente», afirma Paula Amorim.
O que falta aos empresários portugueses?
A propósito do seu líder e pai Américo Amorim, que tinha 70 anos quando comprou a Galp, Paula Amorim confirma que aprendeu a ver a longevidade que pode existir numa carreira e atividade empresarial.
Ao fazer uma transição para um meio mais corporativo, Paula Amorim reconhece que não existe uma visão empresarial criativa. «Falta criatividade nos empresários em Portugal», afirma, acrescentando que estes devem saber conviver com a crítica e vulnerabilidade, mantendo o foco no sucesso e crescimento do negócio.
«A classe empresarial em Portugal é um pouco conservadora, demasiado previsível e avessa ao risco, e deve haver mais ousadia, ambição, abertura, diálogo e delegação».
A Presidente da Galp realça ainda os media, que devem ter um papel importante, por serem os guardiães da verdade, e que «nem sempre descrevem os empresários da melhor maneira».
Pedro Castro e Almeida atribui as dificuldades do tecido empresarial português à cultura latina e do sul da Europa, onde por vezes o sucesso não é bem visto ou valorizado. Considera que, acima de tudo, falta «vontade, ambição e energia» aos empresários portugueses.