Neste exercício de pensamento, reunimos alguns agentes da mudança, vozes da sociedade nas suas diferentes áreas para nos darem uma ideia para refazermos o Mundo. Imaginar que podemos começar tudo de novo e a partir daí criar, inventar, reconstruir. Ideias que podem ser peças de um enorme puzzle que gradualmente juntamos para nos podermos espantar com o resultado: um Admirável Mundo Humano. Afinal, que Mundo queremos nós?
Marco Paiva, Diretor artístico da Terra Amarela, ator e encenador, deixa-nos a uma ideia para um Mundo ideal mais humano.
Não haverá provavelmente exercício mais esperançoso do que imaginar o lugar coletivo. O próprio ato de imaginar já é por si um sinónimo de vitalidade de quem o pratica. E colocar a esperança e a imaginação ao serviço de uma projeção de futuro, é pelo menos uma afirmação de resistência à alienação. Então pensemos juntos: que futuro é esse que desejamos projetar? De que tempo dispomos para refletir e agir sobre esses pujantes desejos? E principalmente: que “nós” é este que insistimos em implementar no discurso retórico, mas que na maior parte dos casos se encontra esvaziado de pluralidade?
Diria então que desejar um outro Mundo será começar por concretizar outras formas de inter-relação. Fomentar a participação, o sentido crítico, a diversidade de ideias, corpos, línguas e linguagens; conceber uma prática social que espelhe e responda a distintas necessidades e expectativas, que partilhe representatividade. Que equilibre a relação entre o emocional e o raciona, a receção e a emissão do que queremos partilhar uns com os outros.
Mas é, para mim, completamente impossível jogar a esta ideia de Mundo futuro sem fazê-lo também a partir do lugar cultural e artístico. Talvez porque tenha sido desse lugar que uma ideia de Mundo – espaço global, heterogéneo, vasto e parcialmente desconhecido – suscitou o meu interesse pela imaginação e, consequentemente, a minha esperança em tudo aquilo que não sei o que é. E como é que a cultura e a arte podem contribuir para essa ideia de outro Mundo? Paradoxalmente, talvez seja regressando à origem dos conceitos. Redescobrindo de novo o prazer de estar com os outros para partilhar e expressar ideias individuais com o objetivo de desenhar um espaço comum. Querer estar, partilhar, criar e transformar.
Parece simples… mas a verdade é que ainda nos assustamos com aquilo que não sabemos o que é. Com o que não sabemos explicar ou entender. Encerramo-nos em lugares onde confortavelmente passamos o tempo a olhar-nos ao espelho, aprisionados a uma falsa ideia de controle e entendimento, que reduz a nossa experiência coletiva ao lugar seguro. E é aqui que as práticas culturais e artísticas nos podem ajudar a experienciar o que ainda não sabemos explicar, apostando na aproximação das pessoas e das suas diferentes experiências ao centro da sala, para que se olhem e se sintam nas suas diversas identidades, derrubando muros e pré-conceitos, partilhando experiências de Beleza e de sublimação do quotidiano, acrescentando ao Mundo particular de cada pessoa um pouco do Mundo novo da outra.
E depois repetir esta experiência o maior número de vezes possível, até conseguir afirmar que o Mundo do outro me acrescentou futuro porque me apontou outras visões sobre o que somos juntos. Mas infelizmente o tempo para nós é finito. É então urgente passar do desejo à ação, da utopia à concretização da mudança. E não é amanhã… é hoje, agora, já.
Este artigo foi publicado na edição de outono da revista Líder, que tem como tema Reborn from Chaos: The Path for a New Renaissance. Subscreva a Líder aqui.