Há 30 anos o Ruanda foi palco de um evento trágico: um processo genocida da maioria hutu contra a minoria tutsi. O acontecimento custou a vida a mais de 800 mil pessoas, ao longo de cerca de 100 dias de terror. Da tragédia emergiu um nome: Paul Kagame, tutsi, por vezes chamado de “Napoleão africano”, um homem de 66 anos que tem gerido o país com mão de ferro desde 1994.
A liderança de Kagame tem sido um poço de contradições. Como escrevia recentemente The Economist, o país pode ser descrito como a Singapura de África, mas também como a Coreia do Norte do continente. A esperança de vida cresceu de 49 para 66 anos, mas apenas 2% dos ruandeses têm frigoríficos. O país é limpo e seguro, mas constitui uma ameaça para os seus vizinhos. Kagame tem elogiado o papel da Rússia em África mas é dos poucos que se prepara para acolher uma nova embaixada da Ucrânia.
Mais problemática é a questão que fica sem resposta: o que acontecerá depois da saída de Kagame? Que país deixará como legado? Uma nação capaz de preservar a paz ou um castelo de cartas que cairá com a saída de cena do seu arquiteto e vigilante? Líderes sem instituições geram coletivos instáveis e dependentes. Essa parece ser a atual tragédia do Ruanda. E não só.

