A volatilidade, entre o clima de recessão económica previsto para 2023, pode trazer oportunidades para as empresas de serviços financeiros, como disseminação do open banking, a abertura ao metaverso, para além da regulamentação do mercado de criptoativos.
A consultora CI&T aponta três tendências que vão marcar o setor financeiro neste ano que agora se inicia:
I. Modelo ‘Buy Now, Pay Later’
À medida que a crise económica se agrava, é provável que as alternativas ‘Buy Now, Pay Later’ (BNPL) se tornem uma opção de pagamento mais recorrente (e atrativa). No entanto, a própria natureza deste tipo de crédito pode levar a que os consumidores se excedam e ultrapassem as suas possibilidades, levando a penalizações por atrasos no pagamento e dívidas crescentes. Assim, para se protegerem do aumento do risco de crédito, os fornecedores de soluções ‘Buy Now, Pay Later’ vão tornar-se mais cuidadosos e rigorosos quanto aos critérios de elegibilidade, às verificações de crédito e à dimensão dos empréstimos que oferecem aos clientes.
É necessário que haja uma comunicação mais eficaz entre estes fornecedores, para colmatar o ‘buraco negro’ que existe no historial de crédito dos consumidores – se não souberem quantas dívidas estes já tiverem contraído em opções BNPL anteriores, cria-se um enorme risco (tanto para o fornecedor como para o próprio consumidor). A disseminação crescente do open banking pode ajudar a resolver esta questão, mas depende sempre da disponibilidade dos consumidores para partilharem os seus dados. Embora seja provável que os mais responsáveis o façam, quem tem dificuldades em pagar dívidas poderá sempre recusar, tentando proteger as suas perspetivas futuras de conseguir empréstimos.
II. Regulamentação dos criptoativos
Os recentes avanços na regulamentação de criptoativos – como a proposta de regulação MiCA da União Europeia – indicam que há vontade de contar com um maior controlo neste mercado. No entanto, a cooperação internacional é limitada e a abordagem à regulação faz-se país por país, algo que deverá manter-se igual – por agora. Em última análise, a longo prazo será necessária uma abordagem global, que seja coordenada, consistente e abrangente. Cabe aos países pioneiros na utilização de criptoativos estabelecer as regras e padrões a seguir – se surgir uma política pré-definida e universal, surgirão também oportunidades mais amplas para o comércio global.
III. O Metaverso também vai chegar aos bancos
Alguns bancos já utilizam a Realidade Aumentada e Virtual (RA e RV) para formar os seus colaboradores que contactam mais com os clientes. À medida que a Internet evolui, devemos também considerar a hipótese de os grandes bancos começarem a recorrer ao metaverso para melhorar a experiência de cliente. Perante os encerramentos de sucursais, ele surge como uma alternativa para proporcionar uma abordagem mais personalizada e com um toque humano. No entanto, um grande obstáculo à adoção em larga escala do metaverso no setor bancário prende-se com o acesso dos consumidores à tecnologia necessária. Os preços dos headsets, entre outros, tornam-no inacessível para muitos; e embora os avanços tecnológicos possam levar à redução deste custo, há ainda um longo caminho a percorrer até aí chegar. Só quando existir uma base sólida de utilizadores do metaverso é que os nossos bancos vão começar a levá-lo mais a sério enquanto opção para o dia a dia.
À medida que os preços dos bens essenciais e da energia continuam a aumentar, as famílias têm cada vez mais dificuldades em pagar as contas e as empresas enfrentam também um futuro mais difícil. Se 2022 já foi um ano desafiante para todos, em 2023 vamos sentir ainda mais as repercussões da recessão económica. É por isso que os profissionais do setor bancário e de serviços financeiros devem apoiar-se na tecnologia e estar atentos às novas soluções que podem realmente transformar a forma como interagem com os clientes e com o capital. Os tempos de mudança são também tempos de oportunidade – e, neste caso, de forjar um futuro mais digital, positivo e próspero
David Ritter, Director, Financial Services Strategy da CI&T