Vítor Silva é diretor de Recursos Humanos do InterContinental Lisbon, a única unidade hoteleira a ter um selo Healthy Workplaces 2022, atribuído pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, um Local de Trabalho Saudável é aquele em que todos os membros da organização (empregadores, gestores e trabalhadores) cooperam com vista ao melhoramento contínuo dos processos de proteção e promoção da saúde, da segurança e do bem-estar. Em entrevista à Líder, o responsável fez uma reflexão sobre a promoção de ambiente de trabalho saudável e nos desafios para o futuro da hotelaria em que são necessárias novas formas de trabalhar e estar com as pessoas.
Segundo Francisco Miranda Rodrigues, Bastonário da OPP, os selos e os prémios são o “reconhecimento para a coragem de quem se atreveu a candidatar, se expôs com as suas práticas e está disposto a aprender”. O que há ainda a fazer para a melhoria do bem-estar e motivação dos vossos colaboradores e o que será para manter no futuro?
Ainda há muito a fazer, construir e até reconstruir. A nossa candidatura ao Prémio Locais de Trabalho Saudáveis foi feita com confiança pelas iniciativas que implementámos, mas também com o compromisso de continuadamente fazer mais e melhor. Acredito que só com humildade é que nos tornamos melhores empresas e impactamos mais positivamente a sociedade. O reconhecimento que tivemos dá-nos ainda mais responsabilidade, motivação e entusiasmo para incrementar novas práticas e modelos de trabalho, que sejam atrativos para quem ambiciona juntar-se a nós e que, ao mesmo tempo, sejam diferenciados e promovam o desenvolvimento dos que fazem parte da equipa. O Departamento de RH tem assumido a liderança nestes projetos e está mobilizado em prol do bem-estar de todos e em prol de uma performance ainda mais sustentável.
Pode partilhar alguns exemplos daquilo que é feito na vossa organização em termos de boas práticas de um local de trabalho saudável?
A saúde mental e o bem-estar assumem, cada vez mais, prioridades na gestão de pessoas e na vida das organizações. No InterContinental Lisbon temos vindo a estabelecer, ao longo dos últimos anos, metas, dinâmicas, práticas e processos de transformação da nossa atividade num ambiente seguro, saudável e feliz. Este é o nosso foco. A OPP tem dinamizado, junto da sociedade em geral e das empresas, um papel muito interessante na promoção de práticas, ferramentas e campanhas, entre outras, ao nível da saúde psicológica e capacidade de resiliência. Isto chamou, ainda mais, a nossa atenção para esta questão e motivou-nos a estimular novas abordagens e a trabalhar de forma diferenciada. Passámos a ter uma abordagem sem tabus sobre a saúde mental; o stress; a depressão; a ansiedade e a gestão de conflitos e de emoções. Melhorámos a comunicação, ficámos mais preparados para detetar os sinais e para acompanhar os nossos colaboradores e criámos guias, especialmente, dirigidos a superiores hierárquicos com diretrizes de gestão de saúde mental. Deste modo, conseguimos estar mais cooperantes e eficazes no apoio, suporte e orientação das equipas. Estamos mais preparados para gerir, ainda melhor, os nossos colaboradores, através de habilidades que nunca tinham sido desenvolvidas e que passam pela capacidade de conhecer mais e melhor os que dão vida ao nosso hotel. Recentemente, lançámos também um guia para todos os funcionários, sustentado nas boas práticas da IHG sobre bem-estar e que dispõe de dicas, tópicos e práticas acessíveis a todos, sobre saúde física e mental e bem-estar financeiro e social.
Após dois anos de Pandemia, e sendo o setor hoteleiro um dos mais afetados pelas consequências do Covid-19, que lições retira desses tempos e que conselhos nos pode deixar?
O pós-pandemia veio com novos desafios sobretudo no mundo da Gestão dos RH. A vivacidade com que se fez frente às adversidades, aproximou-nos a novos modelos e estratégias que, agora, estão para ficar. Mas se, entretanto, precisávamos de clientes, agora, precisamos de mais colaboradores. Agora, há que construir resiliência com propósito, há que adaptar processos e ser assertivo nas boas práticas de gestão de pessoas a adotar para a regulação do mercado de trabalho.
A escassez de recursos humanos com vontade de regressar ao setor coloca a retoma em risco. Assistimos a um fenómeno (in)esperado: a migração dos “nossos” trabalhadores para outras áreas mais estáveis, quer nos muitos meses em que as atividades turísticas estiveram “congeladas”, quer agora. Nos dias de hoje há que investir em formação, qualificação e boas condições de trabalho. Há que aproximar compromissos com as principais expectativas dos trabalhadores: remuneração, flexibilidade, desenvolvimento e progressão, desafios e projetos profissionais e, sobretudo, identificação com o propósito organizacional. É importante não comprometer a qualidade do nosso produto turístico, por via de ações imediatas que refresquem e mudem a imagem do nosso setor, porque as pessoas são o ativo mais importante que ainda temos. Temos de garantir confiança que convide trabalhadores a um eventual regresso ao mercado e aos postos disponíveis e garantir condições para captar recursos humanos, com formação em outras áreas de conhecimento, que possam acrescentar valor na relação com o cliente ou nas operações. Em suma, há que dedicar foco estratégico em competências cognitivas, interpessoais, de auto liderança e digitais; ligar os sinais de alerta e repensar formas de trabalhar e de estar com pessoas.
O que para si é fundamental para se manter uma equipa feliz e motivada, num ambiente de trabalho saudável?
Defendo que o clima e cultura organizacional que nos caracterizam são, cada vez mais, determinantes no “Quem Somos” e “Como Somos” no setor. Priorizar as pessoas, os valores da diversidade, a inclusão, a equidade, a responsabilidade social, a saúde e o bem-estar, é o que nos faz ser um hotel diferente e um “Great Place to Work”. É fundamental construir dinâmicas promotoras de confiança e que contribuam para a excelência do ambiente de trabalho e manter políticas de gestão de proximidade, de comunicação aberta, assertiva e transparente.
Que características são indispensáveis a um líder?
Enquanto líderes temos de merecer e conquistar reconhecimento, pela influência que geramos nas pessoas, nas equipas, na organização e na sociedade. Liderar é uma combinação de competências e de caráter onde cada um de nós se diferencia, com a sua própria “assinatura”, entre elas: comunicação; acessibilidade e flexibilidade; motivação; empatia; otimização de recursos e promoção de iniciativas de trabalho de equipa. Mas acredito que a mais importante das características é sermos inspiradores.