O Regime de Educação Inclusiva está previsto na lei, mas qual é a realidade da educação especial e da escola inclusiva? «Há uma décalage muito grande entre aquilo que está legislado e o que é operacionalizado», afirma Cristina Palhares, Professora de Educação Especial.
A conversa «Educação inclusiva, mas pouco» aconteceu no âmbito do podcast «Isto é Psicologia», uma iniciativa da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), juntou ainda Sara Bahia, psicóloga e ex-Professora da Universidade de Lisboa com moderação de Mésicles Helín Berenguel.
Mito da Educação inclusiva
O conceito de escola inclusiva é uma utopia para Sara Bahia, para quem a história não tem sido generosa com a inclusão de todos e que apenas a partir do Iluminismo se começou a debater essa questão. Com todos os avanços que têm existido desde então, Cristina Palhares lamenta que o mais recente Decreto 54 (Decreto-Lei nº54/2018) não esteja «bafejado por mais áreas da psicologia», cingindo-se à Ciências da Educação.
Uma escola inclusiva é para a professora de Educação Especial um conceito redundante. «Estamos a falar de uma igualdade de acessos e oportunidades, para que todos possam usufruir dos mesmos contextos», referiu.
Sara Bahia acrescenta que a inclusão deve permitir o «empoderamento de todas as pessoas sem exceção, fornecendo as ferramentas necessárias», mas que, na prática, não chegam a todas as pessoas. «Neste momento temos uma inclusão para alguns, não para todos», afirma a psicóloga.
Cristina Palhares lamenta que «continuemos a ter escolas com cadeiras viradas para um quadro», quando a inclusão e inovação devem começar nas próprias salas de aula, materiais e métodos. «Somos dos poucos países que ainda tem o processo de leitura simultâneo ao de escrita», refere, sublinhando as metodologias antiquadas que se aplicam ao ensino português.
Qual é o caminho para a verdadeira inclusão?
Sara Bahia dá o exemplo dos Países Baixos, que utilizam a metodologia de encaixar ao invés de incluir, valorizando o que «cada aluno pode trazer», aceitando a diversidade que existe e «enriquece as aprendizagens de qualquer sala de aula».
«Há que repensar totalmente a forma de estar nas escolas, mas também a mentalidade das famílias e da nossa cultura, que é pouco inclusiva»
A ex-professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa critica o facilitismo que existe na Educação Especial, e defende que os conteúdos sejam os mesmos, apenas lecionados de formas diferentes, que sejam adaptados a cada caso.
A professora acrescenta que uma sala de aula mais diversa contribui para uma maior aceitação e solidariedade entre os alunos, desenvolvendo a «empatia» e o «pensamento crítico». «As questões da educação inclusiva não passam por meramente tolerar, mas sim valorizar a diferença», conclui.
Cristina Palhares afirma que é nos professores que começa este processo e é necessário implementar um pensamento divergente nos alunos, de forma a «contrariar a formatação» que se tem vivido na sociedade.
O episódio pode ser ouvido na íntegra aqui.