Existe a ideia de que o desencanto pela vida política reina nas camadas mais jovens. Certo é que, nas formas mais tradicionais, votam menos do que outras gerações e mostram-se menos ativas na política. Mas será esta perceção um indício de que estão, de facto, menos interessada na política?
De acordo com o estudo ‘50 Anos de Democracia em Portugal: Aspirações e Práticas Democráticas – Mudanças e Continuidades Intergeracionais’, os jovens portugueses votam muito menos do que os mais velhos. Mais especificamente, apenas 2% dos jovens na faixa dos 18-24 e 7% na faixa dos 25-34 optam por formas de participação política convencionais. A faixa etária mais relevante neste tipo de participação é a dos 35-64 anos (55%).
Esta investigação reforça ainda que os jovens votam menos do que os seus pares europeus, preferindo formas de participação menos convencionais e distanciadas dos partidos políticos. São elas: assinar petições (46%), doar ou recolher fundos para uma organização (36%) e participar em greves ou manifestações legais (30%).
As juventudes partidárias, outrora mais populares, também têm perdido membros. Apenas 7% dos jovens admitem estar filiados a um partido político, mas esse número sobre para 21% quando se fala de participação em comícios e ações de campanha. Todos estes dados sugerem uma maior disposição para ativismo direto e questões específicas, em vez de se alinharem com ideologias políticas mais amplas.
Sabe-se ainda que os jovens se estão a movimentar no espetro político. Três quartos dos jovens portugueses têm uma visão polarizada da política e mais à direita. Já no contexto global, as mulheres entre os 18 e os 30 anos estão a tornar-se mais progressistas ou a votar em partidos de esquerda. Por outro lado, os homens da mesma idade mostram-se mais conservadores ou a tender para forças políticas à direita.
O interesse pela política permanece, ainda que noutros moldes
A participação online tem sido uma modalidade cada vez mais procurada pela juventude: os resultados de um inquérito realizado pelo ‘Fórum Gulbenkian Futuro’ em 2020 mostram que «os jovens apresentam um maior interesse pela política e que procuram, com maior frequência, informações sobre política, particularmente através das redes sociais».
Nas entrevistas conduzidas no estudo, há uma distinção entre interesse e envolvimento na política. A ideia que prevalece é a de que os jovens se interessam pelas questões políticas (em sentido amplo), mas não se reveem nos fóruns políticos convencionais. Mesmo admitindo que existe uma parte da juventude passiva e desinteressada, este fenómeno é atribuído à desilusão com os atores políticos, com a descredibilização da classe política a ser mencionada reiteradamente.
«A haver ‘alienação’, ela ocorre em relação à ‘maquinaria democrática’ e não face aos princípios democráticos, contrariando o argumento da despolitização ou da apatia da juventude», pode ler-se no estudo.
Resta conhecer o novo panorama político que a juventude está a cimentar – e para onde nos leva.
Este artigo foi publicado na edição nº 29 da revista Líder, sob o tema Incluir. Subscreva a Revista Líder aqui.