O setor global das Telecomunicações criou 694 mil milhões de dólares (643 mil milhões de euros) em valor entre 2020 e 2024, um crescimento de 21% face ao quinquénio anterior, revela o novo estudo da Boston Consulting Group (BCG), intitulado ‘Returns May Be Declining, but Opportunity Is Calling’. Ainda assim, o retorno médio anual para os acionistas (TSR) ficou nos 4%, dois pontos percentuais abaixo dos 6% registados no período anterior.
Segundo Eduardo Bicacro, partner da BCG em Lisboa, «a indústria enfrenta um ambiente desafiante, mas as empresas que apostam cedo na digitalização, na inovação e em fusões e aquisições inteligentes conseguem distinguir-se e criar mais valor». Além disso, sublinha ainda que a menor escala tem funcionado como uma vantagem competitiva para alguns operadores, ao permitir maior agilidade na adaptação e captura de oportunidades.

No mesmo período, o retorno sobre o capital investido (ROIC) das empresas do setor fixou-se nos 6,7%, abaixo do custo médio ponderado de capital (WACC) mediano, que foi de 7,1%. Apesar disso, o setor encurtou a distância em relação à média do mercado: ficou 7 pontos percentuais abaixo do índice S&P Global 1200, contra os 15 pontos de diferença registados em 2023.
Pequenas empresas lideram no retorno acionista
O estudo da BCG divide o setor em quatro arquétipos. As telecom globais geraram 199 mil milhões de dólares em valor, com um retorno médio anual de 3,1% — menos 4 pontos percentuais que no quinquénio anterior. Já os grandes operadores domésticos representaram dois terços do valor total criado (455 mil milhões), com um TSR de 4%, ligeiramente abaixo dos 6% anteriores.
As pequenas empresas, com receitas inferiores a 10 mil milhões de dólares, foram o único grupo a registar crescimento no retorno aos acionistas: alcançaram uma média anual de 6%, mais 3 pontos percentuais face ao quinquénio anterior. Em contraciclo, as empresas de infraestruturas perderam valor — cerca de 34 mil milhões de dólares — e apresentaram um retorno negativo de -2%, uma queda abrupta em relação aos 10% positivos registados entre 2019 e 2023.
Otimização, 5G e IA como motores de valor
A BCG identifica três frentes críticas para a criação de valor no setor:
- Otimização de ativos e custos, incluindo redes partilhadas e soluções cloud, como forma de reforçar a rentabilidade operacional.
- Investimento em arquiteturas de rede de próxima geração, aproveitando o fluxo de caixa de redes 5G e fibra para lançar novos produtos e serviços.
- Transformação digital e adoção de inteligência artificial, com destaque para a IA generativa na personalização de campanhas, automatização do atendimento ao cliente e redução da rotatividade.
Fusões e aquisições (M&A) ganham peso estratégico
Noutro estudo recente, ‘Future-Proofing Telcos with Smart M&A’, a BCG reforça o papel das fusões e aquisições como alavanca para consolidar mercado, ganhar escala e aceder a novas competências tecnológicas. Num contexto de mercados saturados e elevada concorrência, a aposta seletiva e estratégica em M&A permite às operadoras explorar sinergias de custo, melhorar a eficiência operacional e aumentar o retorno sobre o capital.
O setor das Telecomunicações continua a apresentar potencial de crescimento, mas para capturar esse valor, as empresas terão de acelerar a transformação tecnológica e reforçar a sua posição através de operações inteligentes de consolidação.