Um novo estudo mostra que, a nível global, 41% dos trabalhadores espera receber um aumento mensal para compensar o incremento do custo de vida, sendo que em Portugal esta expectativa é de 34%. E o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal mantém-se uma prioridade para a maioria (68%) dos portugueses.
Entre os trabalhadores mais velhos uma elevada percentagem (79,5%) afirma que a sua situação financeira não permite uma reforma na idade pretendida.
Estas são parte das conclusões da análise global “Workmonitor 2023” da Randstad, realizada no final de 2022 junto de 34 países e cerca de 35 mil trabalhadores, incluindo Portugal.
Preocupações económicas
A incerteza macroeconómica, assim como o aumento do custo de vida faz crescer as preocupações com os encargos quotidianos e os trabalhadores geram cada vez mais expectativas de ajuda por parte dos empregadores.
Tanto a nível global (39%) como nacional (34%), os profissionais gostariam de receber um aumento fora da revisão salarial anual. No contexto português, 30,9% dos profissionais afirma receber ajuda por parte dos empregadores para fazer face ao aumento do custo de vida.
Paralelamente, 52,2% dos profissionais nacionais gostaria de vir a receber ajudas mensais para compensar o aumento do custo de vida e 27,3% teria interesse em receber um subsídio de ajuda de custos nomeadamente com os preços da energia e de deslocações.
O estudo aponta também para uma nova preocupação crescente: a estabilidade do emprego. A nível global, 52% dos profissionais sente-se preocupado com a possibilidade de perder o emprego, em Portugal esta percentagem é ligeiramente mais baixa, 48,1%.
Na hora de aceitar uma oferta profissional, 66,8% dos portugueses afirma não aceitar um emprego caso este não seja estável. No entanto, enquanto 63,8% dos portugueses receia que a incerteza económica afete a estabilidade do seu trabalho, em termos globais a percentagem desce para perto de metade (37%).
Quanto às perspetivas de reforma, estas tendem a ser, cada vez mais, adiadas. Em termos globais, 26% dos inquiridos com mais de 55 anos pondera atrasar a idade da reforma devido à sua situação financeira e 70% diz que as preocupações financeiras os impedem de se aposentar tão cedo como gostariam.
Em Portugal, a maioria (52,3%) dos participantes do estudo acredita conseguir reformar-se entre os 65 e os 69 anos. No entanto, 79,5% considera que a sua situação financeira está a impedir chegar à reforma tão cedo quanto o pretendido. A juntar a este fator, 21,8% afirma precisar manter-se empregado e atrasar idade de aposentação.
Preocupação sociais
A tendência veio para ficar: os profissionais procuram cada vez mais a flexibilidade. O equilíbrio profissional e pessoal tornou-se uma prioridade, 68% dos portugueses afirma que não aceitaria um emprego que não permitisse um equilíbrio entre estas duas vertentes, assim como 35,2% dos inquiridos revela já ter abandonado o emprego por não o conseguir conciliar com a vida pessoal.
Em termos globais, as perspetivas são muito semelhantes: 33% dos profissionais afirma que preferia estar desempregado a estar insatisfeito com o seu trabalho e 42% dizem deixar o emprego se o empregador não tivesse em consideração as suas condições de progressão de carreira.
A par da flexibilidade laboral, os profissionais procuram um sentimento de pertença e que os valores e propósitos dos seus empregadores se alinhem com os seus. Cerca de 43,6% dos inquiridos em Portugal afirma demitir-se se não se sentir integrado. A nível global a percentagem cresce para 54%, com a Geração Z a marcar a tendência (61% dos inquiridos entre os 18 e 24 anos).
Em Portugal, 40,8% dos profissionais não aceitaria um emprego que não se alinhasse com os seus valores sociais e a percentagem aumenta (87,9%) quando se questiona qual a importância e os valores dos empregadores, sendo que 33,7% dos profissionais afirma já se ter demitido por se encontrar num ambiente de trabalho tóxico.
Hoje mais do que nunca, os empregadores precisam de acompanhar os interesses e preocupações dos profissionais. Apoiar o crescente aumento do custo de vida está a tornar-se uma forma diferenciadora de cativar e reter talento. Simultaneamente, os profissionais continuam a procurar um emprego flexível, estável e que esteja alinhado com seus próprios valores
José Miguel Leonardo, CEO da Randstad Portugal
O pico da “Grande Demissão” (Great Resignation) parece já ter passado, mas as empresas devem continuar a procurar estar à altura das expectativas dos profissionais se quiserem atrair e reter talentos. As empresas devem ter como ambição criar um local de trabalho feliz, inclusivo e inspirador, para transmitir um sentimento de pertença aos seus colaboradores. Para isso é necessário ouvir as suas opiniões e respeitar os seus valores. No fundo, as empresas que apoiam os seus colaboradores em condições económicas mais difíceis, serão com certeza as que conseguirão reter profissionais quando os tempos forem mais fáceis
Mariana Canto e Castro, Diretora de Recursos Humanos da Randstad Portugal