O propósito associado ao trabalho é um parâmetro crucial para os portugueses, encontrando-se acima da média global de valorização, entre o contexto europeu. Contudo, Portugal encontra-se abaixo da média global (71%), no que toca a encontrar este fator. E nas idades entre os 55 e os 64 anos, cerca de metade dos colaboradores consegue sentir algum propósito no seu trabalho.
“Valorização dos trabalhadores”, a “criação de oportunidades para trabalhar com outras equipas” e o “envolvimento em projetos fora da área de especialização” são as três principais medidas apontadas para um sentimento mais robusto de concretização laboral.
Estas são parte das principais conclusões do “European Work Voices 2022”, o inquérito que recolheu as opiniões de cerca entre colaboradores de oito países, incluindo 1500 trabalhadores portugueses, elaborado pela consultora de recursos humanos Kelly.
Perspetivas de futuro – otimismo e ‘job hopping’
Os portugueses são também os mais otimistas no que toca ao futuro do trabalho. Relativamente às perspetivas de futuro, os inquiridos portugueses apresentam uma maior confiança na progressão da sua carreira do que a média global – numa escala de 1 a 10, a média portuguesa é de 6.3, contrastando com a média europeia de 5.9. Contudo, é em Portugal onde se encontra uma maior probabilidade de trocar de trabalho nos próximos doze meses.
A inteligência emocional e a literacia digital, são, para os portugueses, as competências mais destacadas para o futuro do trabalho, o que está em linha com as perspetivas europeias.
Teletrabalho e bem-estar
Atualmente, 36% dos portugueses trabalham parcialmente em casa, sobretudo entre os 25 e os 34 anos, e em regime de freelancer. De uma forma geral, o trabalho remoto impactou positivamente a capacidade de equilibrar a vida profissional e a vida pessoal, um fator mais relevante entre as mulheres.
Quanto aos aspetos a melhorar, os inquiridos apontam a necessidade de maior feedback do seu trabalho, o acesso a ferramentas e tecnologias adequadas e uma consciencialização superior para respeitar os horários de trabalho.
Discriminação no trabalho
Neste campo, Portugal supera a média europeia, mas pela negativa. Os dados mostram que 55% dos inquiridos já se viram confrontados com discriminação no local de trabalho, um valor acima da média global (52%). Entre as diferentes formas de discriminação, as mais comuns estão relacionadas com a idade e com o ‘status’ laboral, com inquiridos a assumir que “não foram considerados para um determinado cargo, dentro da mesma empresa, pelo cargo que desempenhavam na altura da candidatura”.
Quem já passou por algum tipo de discriminação no trabalho acredita que seja possível combater este tipo de barreiras através de: conversas mais honestas com as equipas, processos de recrutamento mais justos, maior aposta em culturas organizacionais com base na diversidade, equidade e inclusão, maior diversidade aos níveis de liderança e, ainda, a criação de grupos de colaboradores, liderados pelos próprios, de pessoas com experiências semelhantes.
Este estudo ganha especial pertinência no contexto em que vivemos hoje. O objetivo é perceber qual é o estado do mundo do trabalho num momento de imprevisibilidade causado pela pandemia, pela instabilidade económica e também pela crescente preocupação com assuntos relacionados com a justiça social. Traz, assim, uma visão importante daquilo que é o futuro do mundo do trabalho e permite traçar uma perspetiva daquelas que serão as exigências dos colaboradores, servindo simultaneamente de ponto de partida para a forma como as empresas podem ajustar-se para manter a motivação das suas equipas. Num momento em que assistimos a uma dificuldade na retenção de talento, este estudo permite conhecer a realidade portuguesa, mas também de que forma é que esta se relaciona com a realidade europeia. Pode, deste modo, fornecer insights valiosos para cativar as pessoas
Vanda Brito, Diretora de Recursos Humanos da Kelly Portugal