No âmbito do pacote climático “Fit for 55”, o Parlamento Europeu aprovou uma medida que propõe que até 2035 o setor automóvel deve por fim à venda de veículos com emissões poluentes. Este novo leque de medidas tem vindo a pôr pressão no setor automóvel português, que se encontra ainda dependente dos motores a combustão.
Na apresentação do estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) “Conduzir a mudança – o futuro do trabalho no setor automóvel português”, em Lisboa, foram debatidos os impactos do pacote climático na economia portuguesa, e como pode afetar os trabalhadores da indústria.
O encontro contou com a participação de João Lopes, Presidente da Confederação e Comércio e Serviços de Portugal (CCP), Isabel Camarinha, Secretária-Geral da CGTP, José Couto, Presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), bem como o Secretário-Geral do Sindicato Nacional da Indústria e Energia (SINDEL), Rui Miranda, com a moderação do Diretor Regional da OIT para a Europa e Ásia Central, Heinz Koller.
A precipitação parece ser o consenso a que se chegou neste debate: Portugal tem já bastantes problemas de infraestruturas e de condições precárias, sendo que esta mudança abrupta iria provocar um abalo no tecido económico e social. “Pensamos que tem de ser gerida uma flexibilidade e pontos de equilíbrio terão de ser ajustados, com a evolução da economia e dos mercados”, justifica João Lopes.
“Apesar de o setor automóvel representar 11,9% das exportações de Portugal, há que ter em conta que o Valor Acrescentado Nacional deixa muito a desejar”, afirma o presidente da CCP, que considera que é necessário haver uma preparação do setor através da qualificação das pessoas nas novas áreas de intervenção.
No entanto, os trabalhadores do setor automóvel trabalham em condições precárias, e os baixos salários não refletem o crescimento que se tem vindo a verificar. “A estagnação dos salários que marca a última década foi particularmente impactante no setor automóvel, sendo que as remunerações mensais base em termos reais são inferiores agora ao que eram em 2010.”, declara Isabel Camarinha.
Apesar de uma forte necessidade de investir em qualificação, formação e investigação científica nas áreas das tecnologias digitais e elétricos, o presidente da AFIA antevê uma situação preocupante para os trabalhadores da área: “Ao proibir a tecnologia com motores de combustão, coloca-se mais de meio milhão de empregos neste espaço em risco”, acrescentando que em Portugal não há espaço para fábricas de baterias, nem condições para as exportar.
“Precisamos de uma transição mais suave e realista da tecnologia digital, combinando a eletrificação rápida com outros combustíveis sustentáveis, de baixo teor de carbono. Isto mitigaria a perda de empregos, tornaria a transformação menos radical e mais adequada”, declara José Couto.
Porém, sem aproveitar as oportunidades e desafios que se avizinham que esta medida, que apesar da aprovação não é definitiva ainda, certamente não se avança com os planos, afirma o Secretário-Geral da SINDEL, insistindo na necessidade crescente e urgente do investimento nas pessoas.
Por Denise Calado