É impossível determinar quando, ou como, é que a guerra na Ucrânia vai acabar. No entanto, com dez meses de guerra foram-se estabelecendo cinco cenários que podem levar à paz, partilhados pelo The Economist.
#1 – Vantagem no campo de batalha
A Rússia tem três vezes mais população do que a Ucrânia, mas Vladimir Putin vai ter dificuldades em treinar, equipar e alimentar um exército e ocupar as quatro províncias ucranianas que anexou. Quanto mais pressiona russos receosos para lutar, mais mortes surgirão em batalha.
Por outro lado, a Ucrânia está bem posicionada para reunir tropas com armas e inteligência, graças ao apoio dos países da NATO. Talvez depois de desgastar as posições defensivas russas a sul e na região do Donbass, as forças ucranianas repitam a rápida tomada do território ocupado no Leste e no Sul, que conseguiram em setembro e outubro.
Mas mesmo que não consigam, devem ser capazes de continuar a avançar, ainda que mais lentamente. Do ponto de vista ucraniano, é essencial que o façam. Por si só, o ímpeto não vencerá a guerra, mas é a base para tudo o resto, incluindo o segundo cenário.
#2 – O apoio ocidental firme aos esforços da Ucrânia
Putin calculou que o ocidente abandonaria a Ucrânia, ou pelo menos a forçaria a aceitar uma paz desigual. Ou seja, tentou lidar com reveses no campo de batalha, ao cortar o fornecimento de gás natural para a Europa e ao ameaçar iniciar uma guerra nuclear.
Ceder ao Kremlin hoje, como em 2014, quando a Rússia atacou a Ucrânia pela primeira vez, apenas prepararia o terreno para o próximo conflito. As armas ocidentais continuarão, portanto, a fluir para território ucraniano, e o gás russo nunca mais passará para o ocidente em grandes quantidades.
Este inverno será difícil – e o próximo poderá ser ainda pior, especialmente se a demanda chinesa por energia voltar, elevando o preço do petróleo e do gás. No entanto, enquanto a Ucrânia estiver a avançar no terreno, a determinação da Europa perdurará.
#3 – O impacto no resto do mundo
A China continua a apoiar a Rússia de forma indireta. A Índia e muitos países em desenvolvimento recuaram, irritados com as exigências perante o pedido de adesão à agenda do Ocidente, quando estes continuamente ignoram os seus pedidos.
No entanto, mesmo aqui Putin está a perder o apoio: recebeu uma receção pouco calorosa por parte das lideranças na Cimeira da Organização e Cooperação de Shanghai em setembro; em outubro, em votação na Assembleia Geral da ONU sobre a anexação russa, Putin sofreu a sua maior derrota desde o início da invasão.
#4 – A crescente pressão internacional para acabar com os combates
É difícil apoiar uma guerra nos dias de hoje, em que a inflação está instalada. A OCDE, um grupo formado maioritariamente por países ricos, estima que a guerra custará 2,8 triliões de dólares em 2023. A escassez de armas no ocidente vai constituir uma preocupação crescente. É, por isso, de esperar muita discussão em torno de cenários de paz no próximo ano.
O problema é que nem os russos, nem os ucranianos, estão prontos para baixar as armas. Putin vai querer lutar, acreditando que pode montar um ofensiva e recuperar o espírito de luta, ou congelar o conflito, com o objetivo de impedir que a Ucrânia se torne uma democracia europeia próspera e pacífica.
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, entusiasmado com o seu sucesso, prometeu recuperar todo o território perdido desde 2014. Os países ocidentais insistem que somente a Ucrânia deve decidir quando negociar. Na realidade, porém, são estes que pagam pela guerra. Há de chegar o momento em que vão pressionar a Ucrânia.
#5 – A guerra termina em Moscovo
O timing desse momento provavelmente será determinado pelo quinto e mais incerto cenário. Para que a paz seja estável, algo deve mudar em Moscovo. A posse de armas nucleares implica que um rendição não pode ser imposta ao Kremlin pela força de armas.
Em vez disso, os russos terão de entender a verdade: que Putin está a sacrificar as suas vidas numa guerra fútil e impossível de vencer.
Putin poderia recorrer a armas químicas ou nucleares – embora nem isso fosse abrir caminho para um vitória russa. É mais provável que seja abandonado pelas elites. O ano começará com Putin à espera de que algo aconteça: uma ajuda militar chinesa, a fragmentação da unidade europeia ou a perspetiva de que um Donald Trump reeleito abandone a Ucrânia. O presidente russo sabe que tudo é possível na guerra – mas neste momento, a maré está contra ele.