Uma recente pesquisa mostra que, no final de 2022, quase um em cada quatro jovens portugueses, entre os 25 e os 34 anos, com ensino superior trabalhava em profissões que não exigiam este nível de escolaridade. E esta sobre qualificação é superior para as mulheres (24,1%) em comparação com os homens (19,9%).
Os dados partilhados pelo relatório Insight, elaborado pela Fundação José Neves, realçam ainda que nos últimos 11 anos, o aumento da percentagem de jovens que concluem o ensino superior em Portugal, de 27,5%, em 2011, para 44,4%, em 2022 – cerca de 16,9 pontos percentuais. O relatório revela uma correlação entre níveis de educação mais elevados e o aumento da sobre qualificação.
Apesar da maior qualificação dos jovens, o mercado de trabalho não os absorve em ocupações adequadas às suas qualificações. Este desajustamento repercute-se na qualidade do emprego dos jovens trabalhadores, quer a nível salarial quer na evolução das suas carreiras profissionais.
Evolução da taxa de sobre qualificação dos jovens portugueses na última década
Entre 2013 e 2018, a taxa de sobre qualificação entre os jovens trabalhadores aumentou de 17,1% para os 22,9%. Já entre 2018 e 2021, verificou-se uma redução de três pontos percentuais nesta proporção (dos 22,9% para os 19,9%). Não obstante, em 2022, a tendência de decréscimo inverteu-se e a taxa de jovens qualificados aumentou 2,5 pontos percentuais até aos 22,4%.
Em qualquer um dos anos analisados, a sobre qualificação foi sempre superior para as mulheres em comparação com os homens. Este indicador não será alheio ao facto que de a proporção de mulheres jovens com ensino superior ter sido sempre superior à dos homens na última década. Como exemplo, em 2022, a percentagem de mulheres dos 25 aos 34 anos com ensino superior foi de 51,9%, 15 pontos percentuais acima dos homens na mesma faixa etária (36,9%).
Em média, níveis de escolaridade mais elevados estão associados a vantagens no mercado de trabalho, como maior taxa de emprego, emprego de melhor qualidade e salários superiores. Contudo, para uma parte significativa dos mais qualificados, sobretudo os jovens, existe um desajustamento entre as suas qualificações e a ocupação que desempenham.
Este fenómeno pode traduzir-se numa perda de retorno do investimento individual e nacional feito em educação, com consequente subaproveitamento e depreciação das competências recentemente adquiridas, limitando o potencial de progresso do talento nacional.
A elaboração do Insight recorreu aos dados do Inquérito ao Emprego facultados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e aos dados do Eurostat, ambos posteriormente tratados pela Fundação José Neves.



