A varíola foi erradicada após uma campanha mundial de vacinação altamente eficaz, tal como, em muitas regiões do mundo, a poliomielite paralítica deixou de ser uma ameaça com o desenvolvimento e uso de vacinas contra o poliovírus. Atualmente, milhões de vidas estão a ser salvas graças à rápida implantação de vacinas eficazes contra a COVID-19.
No entanto, já se passaram 37 anos desde a descoberta do vírus HIV/SIDA, e até hoje ainda não existe uma vacina disponível contra a doença. Num artigo publicado pelo Fórum Económico Mundial, Ronald C. Desrosiers, Investigador e Professor de Patologia da Universidade de Miami, esclarece quais as dificuldades no desenvolvimento e procura de soluções para esta condição que ainda mata milhares de pessoas em todo o Mundo.
Na sua opinião, as vacinas têm sido a arma mais potente da sociedade contra as doenças virais. Quando uma nova doença, chamada SIDA, surgiu no início dos anos 80 e o vírus que a causou foi descoberto em 1983-84, era expectável que a comunidade científica desenvolvesse uma vacina contra essa condição. Na altura, a então Secretária dos serviços de saúde dos EUA, Margaret Heckler, declarou numa conferência de imprensa que a vacina estaria disponível num espaço de dois anos. A verdade é que passados 37 anos ainda não existe essa vacina e a rapidez do desenvolvimento e distribuição da vacina contra a COVID-19, torna a comparação inevitável pelo contraste de situações. O problema não parece ser uma falha dos governos, mas antes a imensa variedade de estirpes do vírus e as suas estratégias de evasão.
Para Ronald Desrosiers, isso não é motivo para que se desista, e uma das abordagens que os investigadores estão a experimentar em alguns laboratórios, passa por usar, em modelos de animais, os vírus do herpes como vetores no fornecimento das proteínas do vírus da SIDA. A família do vírus do herpes pertence à categoria “persistente”, ou seja, uma vez infetada, a pessoa fica com esse vírus para o resto da vida. E as respostas imunológicas persistem não apenas como memória, mas de forma continuamente ativa. O sucesso dessa abordagem irá depender da descoberta em como obter a amplitude das respostas imunológicas que irão permitir uma cobertura contra a vasta complexidade das sequências do HIV que circulam na população.
Uma outra abordagem considera que embora a grande maioria dos indivíduos infetados pelo HIV produza anticorpos com uma fraca atividade neutralizante e específica da estirpe, existem alguns casos que produzem anticorpos com uma atividade neutralizante mais potente contra uma ampla gama de vírus HIV. Esses anticorpos são raros e altamente incomuns, mas o investigador afirma que os cientistas têm acesso a eles.
Além disso, foi recentemente descoberta uma forma de atingir níveis protetores desses anticorpos para toda a vida com uma única administração. Este resultado depende de um vetor viral chamado vírus adeno-associado. Quando o vetor é administrado no músculo, as células musculares tornam-se fábricas que produzem continuamente os potentes anticorpos de ampla capacidade neutralizante.
O investigador acrescenta ainda que foram documentadas pesquisas recentes feitas em macacos cujos resultados mostram a produção contínua desses anticorpos por um período de seis anos e meio. Nas suas palavras, estão a ser feitos progressos e por isso não se deve desistir.