“Se estiveres no caminho certo, avança. Se estiveres no errado, recua.” Lao Tzu
Quando se chega ao ponto de uma mãe não entregar ao filho todos os presentes que este recebe no Natal algo vai mal. Ouvi isto da parte de alguém na rádio. A pessoa que o disse não importa, mas o conteúdo sim.
Esta mãe queixava-se que o seu filho recebe tantos presentes que não sabe o que há-de fazer com eles e a mãe prefere que ele brinque, efetivamente, com apenas alguns e nem lhe chega a dar os outros. Parece-me uma atitude muito sábia da parte desta mãe, o que me choca é ela ter que o fazer. Numa sociedade com poucos filhos quer-se dar tudo àquele que é único. Recordo-me que, na China, um dos graves problemas que tinham e têm é de que, devido à política de filhos únicos, criaram uma geração egoísta, centrada nela e inclusive, pasme-se, a ligar muito pouco aos pais, na sua velhice.
Este é um tema importante que nos deve fazer pensar e aqui o problema não é ser filho único, mas a forma como ele é educado. No entanto, a minha preocupação vai para o lado consumista da questão. É evidente que muitas empresas esperam pelo Natal para realizar o grosso das suas vendas, mas a questão é a que preço estamos a vender-nos a nós e aos nossos filhos.
Isto leva-me à questão da forma como utilizamos o dinheiro. “Não nos tornamos ricos com o que ganhamos, mas com o que não gastamos.” dizia Henry Ford, mas o mundo mudou… Queixamo-nos dos baixos salários, do custo de vida alto e da falta de reconhecimento do nosso talento. Tudo isto é verdade. Mas temos o outro lado da moeda. Recordo-me quando era novo que um produtor de espetáculos que tinha acabado de trazer um grande nome da música a Lisboa, dizia numa entrevista que Portugal não tinha mercado para mais do que dois espetáculos daqueles por ano. Hoje estes espetáculos acontecem diariamente e a preços completamente inimagináveis, estão cheios e alguns repetem, porque há mais interessados. Nunca os portugueses viajaram tanto de avião e, enquanto há uns anos, grande parte das pessoas que viajavam iam em trabalho, hoje é o oposto: a viagem de trabalho quase desapareceu e as viagens lúdicas tomaram conta dos aviões. E ainda (como dizia um locutor de televisão), nunca ouve tantos restaurantes em Lisboa e noutras cidades e, cuidado, que é melhor marcar porque senão fica à porta.
“Aquele que não é capaz de se governar a si mesmo não será capaz de governar os outros.” defendia Gandhi. A realidade é esta: nas gerações mais antigas, poupar era um valor assumido, hoje em dia ninguém poupa, toda a gente gasta o que tem e às vezes o que não tem. Porque é que isto é preocupante? Acho que não é difícil pensar e preocuparmo-nos com o que será esta geração quando envelhecer. Irá ter baixas reformas, o apoio da família será quase nulo, porque a estrutura familiar estará reduzida a muito poucos elementos e poupanças zero.
Infelizmente já não estarei cá para ver, mas é um cenário preocupante e que resulta de um problema educacional grave que não é discutido, nem na política, nem na sociedade, nem nas escolas. Perceber se estamos no caminho errado é um bom princípio de gestão empresarial e pessoal. Nesta época de Natal, seria bom pensar nisto e de que forma cada um de nós está a construir o futuro dos outros.

