Se alguma vez deu por si a ouvir um adolescente dizer ‘main character energy’ e pensou tratar-se de uma nova aplicação de energia solar, saiba que não está sozinho. Para assinalar o Dia Mundial das Competências dos Jovens (15 de julho), o British Council decidiu dar uma ajuda a quem tenta, sem sucesso, decifrar a língua em constante mutação da geração Z.
O relatório chama-se Phrase-ology, foi dirigido por dois especialistas de peso — a linguista computacional Dra. Barbara McGillivray e o investigador em linguagem natural Lacopo Ghinassi — e apresenta-se como um dicionário de sobrevivência contemporâneo: 100 expressões, idiomáticas e proverbiais, que contam a história de uma língua em movimento acelerado, alimentada por memes, TikToks, hashtags e estados de alma.
De ‘YOLO’ a ‘let them cook’, passando por ‘no cap’ e ‘ate and left no crumbs’, a seleção espelha muito mais do que modas passageiras: é um espelho linguístico da necessidade de afirmação, identidade e pertença de uma geração que comunica em código e vive entre reels e realidades.
«O inglês é um organismo vivo e coletivo. As palavras moldam-se ao mundo, mas também o moldam de volta», explica Mark Walker, diretor de Inglês e Exames do British Council. Através de uma análise a milhões de documentos online, a equipa identificou expressões que nasceram nos salões de baile de Nova Iorque, nos versos dos rappers afro-americanos, nos fóruns de fãs pop e nos cantos mais virais do TikTok — e que hoje atravessam fronteiras, idades e sotaques.
Novas categorias num bairro que envelhece
O relatório está disponível de forma gratuita e foi agrupado em oito categorias temáticas. A secção dedicada à geração Z é talvez a mais reveladora: não só traduz novas formas de comunicar, como também denuncia os seus medos, sonhos e mantras de autoajuda em tom irónico. Por detrás de frases como ‘to glow up’ (melhorar de dentro para fora) ou ‘understood the assignment’ (ultrapassar expectativas com estilo), há um desejo de reinvenção constante, de performance identitária, e talvez, no fundo, de serem ouvidos numa língua que ainda lhes pertence — por enquanto.
Para quem nasceu antes de 1995, este léxico pode parecer um teste à paciência e ao dicionário. Mas desenganem-se os nostálgicos: muitas destas expressões já têm raízes antigas. O célebre YOLO (you only live once), por exemplo, foi gritado por Drake em 2011, mas tem registos desde o século XIX. O novo é sempre mais velho do que parece.
Enquanto o bairro envelhece e os miúdos trocam o futebol de rua por trends de 30 segundos, talvez valha a pena aprender a língua deles. Não por medo de ficar para trás, mas porque, como lembra o relatório, «as palavras também são lugares onde crescemos». E crescer, apesar de tudo, continua a ser uma língua comum.