A incerteza e a volatilidade continuam a marcar a macroeconomia e os mercados globais. Após mais de três anos de abrandamento no fundraising, na atividade de novos negócios e nas saídas, as avaliações em private equity, para o 3.º trimestre de 2025, apresentam-se mais atrativas — tanto em termos absolutos como relativos. Para os investidores, o momento abre espaço a oportunidades capazes de reforçar resiliência e retorno.
No atual enquadramento de mercado, algumas estratégias oferecem perfis de risco e retorno mais favoráveis. Três vetores assumem particular relevância: crescimento transformador, empresas de base local e inovação multipolar — entendida como a emergência de polos tecnológicos em várias geografias.
Este artigo parte de uma análise da Schroders.
Seletividade como condição
As mudanças na política norte-americana desde o início do ano, a preocupação com a sustentabilidade da dívida pública e a continuação ou agravamento de conflitos no Médio Oriente e na Europa de Leste têm provocado instabilidade acentuada nos mercados acionistas e obrigacionistas.
Perante este contexto, o private equity volta a demonstrar o seu valor como instrumento de diversificação. Historicamente, a classe de ativos ofereceu proteção relativa em períodos de volatilidade dos mercados públicos e registou desempenhos superiores durante ciclos de retração.
Ainda assim, a seletividade torna-se determinante. Identificamos hoje oportunidades mais atrativas em estratégias que combinem:
- equilíbrio entre procura e oferta de capital, permitindo avaliações de entrada favoráveis;
- empresas com receitas predominantemente domésticas, mais protegidas de riscos geopolíticos e comerciais;
- prémios de risco associados à complexidade, inovação e transformação;
- menor alavancagem, garantindo proteção em cenários adversos;
- baixa correlação com mercados cotados.
Três alavancas para atravessar a turbulência
Num ambiente marcado por menor atividade de investimento, saídas mais lentas e captação de fundos condicionada, os investidores podem concentrar-se em três eixos complementares:
- Campeões locais — apoiar empresas com receitas maioritariamente internas, menos expostas a tarifas e choques nas cadeias de abastecimento.
- Crescimento transformador — apostar em negócios com capacidade de gerar valor através da inovação ou da complexidade operacional, criando prémios adicionais de retorno.
- Inovação multipolar — investir em diferentes polos tecnológicos (EUA, Europa, China, Índia, Ásia-Pacífico), reduzindo riscos de concentração e captando crescimento onde ele surge.
O papel dos small e mid buyouts
Os small e mid-sized buyouts permanecem um dos motores de resiliência do private equity. Estes negócios oferecem múltiplos de entrada mais baixos (cerca de 7,7x EV/EBITDA, menos 40% do que os grandes negócios) e recorrem a níveis modestos de alavancagem. O seu perfil defensivo reforça-se pela maior exposição a setores de serviços e a receitas domésticas, o que mitiga choques comerciais.
As saídas também revelam menor dependência dos mercados bolsistas, privilegiando vendas estratégicas ou secundárias, o que suaviza o calendário de liquidez.
Continuation funds: prolongar a criação de valor
As transformações empresariais mais complexas exigem, por vezes, horizontes superiores ao período tradicional de quatro a cinco anos. Os continuation funds permitem aos investidores manterem-se expostos ao mesmo gestor e ao mesmo ativo, prolongando o plano de criação de valor e oferecendo maior previsibilidade.
Este segmento tem crescido a ritmo composto de 27% ao ano desde 2013, refletindo o interesse em prolongar histórias de investimento e acelerar o retorno de capital — em média, 18 meses mais cedo do que num buyout convencional.
Venture capital em fase inicial: captar a inovação multipolar
O venture capital em fase inicial representa uma porta de entrada privilegiada para a inovação global. Atualmente, pelo menos cinco polos concentram investigação de ponta e formação de novas empresas: EUA, Europa, China, Índia e Ásia-Pacífico.
Embora os EUA mantenham liderança, cerca de 45% dos unicórnios já surgem fora do país. Cada região evidencia especializações distintas — software empresarial nos EUA, fintech na Europa, consumo na China.
Em 2024, a inteligência artificial captou 15% do financiamento global em venture, mas outras áreas emergem com igual potencial: biotecnologia, fintech, tecnologias climáticas e deep tech. Destaca-se a biotecnologia, que após anos de aversão ao risco apresenta hoje avaliações mais acessíveis.
Conclusão
Num cenário de volatilidade prolongada, o private equity mantém a capacidade de oferecer retorno ajustado ao risco, desde que ancorado em estratégias seletivas e diversificadas. O foco em campeões locais, crescimento transformador e inovação multipolar constitui, em 2025, a tríade essencial para desbloquear valor e resiliência.