Antes considerado um tema de nicho, o debate em torno dos microplásticos ocupa agora um lugar regular nas manchetes e nas agendas políticas, impulsionado por evidências crescentes da infiltração destas partículas nos ecossistemas, cadeias alimentares e até no corpo humano. Não surpreende, por isso, que os microplásticos se tenham tornado numa das preocupações ambientais mais urgentes do século XXI.
À medida que cresce a consciencialização pública e aumenta o escrutínio regulatório, indústrias e governos vêem-se obrigados a enfrentar a dimensão e complexidade desta crise. Como resposta, o mercado está a evoluir rapidamente, impulsionando a procura por tecnologias inovadoras, estratégias de conformidade regulamentar e alternativas sustentáveis.
O mais recente relatório da empresa de inteligência de mercado IDTechEx, ‘Microplastics 2025: Regulations, Technologies, and Alternatives’, da autoria de Shababa Selim, oferece uma análise aprofundada da evolução do panorama regulatório no combate à poluição por microplásticos, com uma avaliação crítica de alternativas de materiais, tecnologias emergentes e dos principais intervenientes do setor.
Embora uma parte significativa dos microplásticos resulte da degradação de resíduos plásticos maiores no ambiente, há também uma grande quantidade de microplásticos intencionalmente incorporada como aditivos funcionais numa vasta gama de produtos em vários setores.
Estes incluem produtos de consumo, agrícolas (fertilizantes, revestimento de sementes), farmacêuticos, tintas e vernizes, dispositivos médicos, entre outros. Os microplásticos contribuem para melhorar propriedades mecânicas (como elasticidade e resistência a riscos), encapsular princípios ativos para libertação controlada (em fármacos, cosméticos, detergentes), além de atuarem como opacificantes, modificadores de reologia e outros fins.
Um panorama regulatório em evolução
A regulamentação em torno dos microplásticos está a ganhar tração, com a União Europeia a assumir a liderança. Enquanto uma das entidades mais precoces e abrangentes nesta área, a UE implementou medidas alargadas que visam os microplásticos adicionados intencionalmente numa grande variedade de aplicações. Outras jurisdições começam também a explorar regulamentações e políticas específicas para enfrentar o problema, incluindo o tratado global sobre plásticos atualmente em negociação.
Além das proibições em categorias específicas de produtos, há uma expansão das normas para abranger aspetos mais amplos do ciclo de vida do plástico. Áreas sob crescente vigilância incluem a minimização de perdas de pellets plásticos ao longo da cadeia de abastecimento, as emissões de microplásticos decorrentes do desgaste de pneus e travões na indústria automóvel, bem como o controlo da presença de microplásticos na água potável. A utilização de lamas de depuração como fertilizante agrícola (frequentemente uma fonte concentrada de microplásticos) está também a suscitar maior atenção regulatória. O relatório da IDTechEx traça este panorama regulamentar, com uma análise abrangente das normas em vigor e propostas, identificando tendências globais, principais desafios e perspetivas futuras.
Inovações em tecnologias de deteção e captura
Os microplásticos são heterogéneos por natureza. Apresentam grande variabilidade em dimensões, composição (tipo de polímero, aditivos), forma (partículas, fibras, etc.) e podem sofrer alterações físico-químicas devido à exposição ambiental (intempéries, envelhecimento, incrustações). Estes fatores criam desafios significativos na deteção, identificação e quantificação fiável dos microplásticos com elevada precisão. Além disso, os limites de deteção dos instrumentos e técnicas analíticas tornam difícil a comparação de dados entre estudos.
De igual modo, as tecnologias de filtragem e captura enfrentam obstáculos semelhantes, especialmente quando os microplásticos já se encontram dispersos no ambiente. Com o avanço das exigências regulatórias como fator de impulso, tem-se verificado uma onda de inovação no desenvolvimento e escalabilidade destas tecnologias, desde infraestruturas de tratamento de águas residuais a intervenções mais a montante, como filtros de microfibras para máquinas de lavar roupa. O relatório da IDTechEx examina mais a fundo estas dinâmicas de mercado, normas relevantes, patentes, desenvolvimentos tecnológicos e identifica os principais atores e startups pioneiras no setor.
Perspetivas de mercado: desafios e oportunidades
A pressão regulatória está a levar fabricantes e cadeias de abastecimento a ajustar as suas práticas. Para além da implementação de tecnologias de captura de microplásticos, há um interesse crescente por alternativas biodegradáveis, de forma a reduzir a geração de microplásticos persistentes. Empresas como a BASF, Syngenta, Kuraray e Covestro estão já a introduzir no mercado produtos agrícolas biodegradáveis, como películas de cobertura, revestimentos de sementes e aglutinantes, impulsionadas pelas restrições do regulamento REACH da UE. No entanto, a investigação nesta área continua ativa. Outras iniciativas incluem tecnologias alternativas de microencapsulamento para libertação controlada de princípios ativos como fertilizantes, pesticidas ou fragrâncias.
À medida que o quadro regulamentar evolui, as empresas e os decisores precisam de insights precisos e orientados para o futuro. A união de decisores e instituições é crucial para encontrar soluções práticas e avançadas.