«Newton estava sentado à sombra de uma macieira, até que lhe caiu uma maçã na cabeça. Foi então que descobriu a gravidade». Este é um dos maiores mitos populares da ciência. Não só não lhe caiu uma maçã na cabeça, como Isaac Newton não descobriu a gravidade. A verdadeira história tem, literalmente, um ângulo diferente.
Estávamos em 1665, em Inglaterra, durante a Grande Peste de Londres, a última epidemia de peste bubónica, e à semelhança do que nos aconteceu durante a pandemia da Covid-19, tinha sido declarada uma quarentena, que se haveria de prolongar por um ano. Por sorte, Isaac Newton tinha acabado os seus estudos na Universidade de Cambridge, dias antes de a mesma ser forçada a encerrar as portas, tendo, posteriormente, decidido isolar-se em Woolsthorpe-by-Colsterworth, na mansão onde havia passado a infância.
Apesar de estar longe das salas da universidade, o ano de isolamento foi incrivelmente produtivo para o jovem Newton, na época, com 22 anos. Certo dia, num dos intervalos das suas descobertas, Newton estava a beber um chá à sombra de uma macieira, até que viu uma maçã a cair no chão.
Aquilo que poderia ser uma trivialidade para uma mente comum, era mais uma porta para os segredos do Universo que se abria para um génio. «Porque é que a maçã, em vez de cair, não sobe?» — terá perguntado Newton. Ao ver a maçã cair no chão, olhou para o céu e fez uma pergunta que ressoou pelos confins do cosmos: Se as maçãs caem, a Lua também cai?
Esta é provavelmente a pergunta mais importante colocada por um membro da nossa espécie desde que nos «separámos» dos chimpanzés, por outras palavras, no decorrer da evolução E a resposta a esta pergunta desbloqueou os segredos dos astros para sempre, transformando assim o modo como, a partir dali, até aos nossos dias, fazemos ciência.
Essa resposta levaria Isaac Newton a descobrir as Leis Universais da Gravitação — e não a força da gravidade em si (essa já havia sido descoberta, pelo menos, mil anos antes de Newton, pelos matemáticos e astrónomos indianos, Brahamagupta e Bhaskara Akaria, o último também sendo conhecido por Bhaskaracharya).
Ou seja, observar a maçã cair no chão ajudou Newton a compreender como é que a gravidade funcionava universalmente, aplicada também às órbitas dos corpos celestes. Basicamente, descobriu que as leis que faziam uma maçã cair no chão eram as mesmas que explicavam o movimento dos planetas em torno do Sol, ou da Lua em torno da Terra. Newton partiu do princípio de que, tal como uma maçã que se desprende da sua macieira, a Lua também está em queda livre, mas com uma diferença: a Lua orbita a Terra.
Se estivesse parada, cairia sobre a Terra; mas a Lua vive suspensa num equilíbrio perfeito entre a queda e a fuga, ou seja, entre a grande velocidade a que se move à volta da Terra (que a impede de cair sobre o nosso planeta) e a gravidade exercida pela Terra (que a impede de sair «disparada» pela sua velocidade).
Moral da história: a mente de Newton mordeu uma maçã, o «fruto proibido», e chegou à resposta mais apetecida de todas.

Este artigo consiste num excerto adaptado, do livro As 100 maiores curiosidades sobre o cosmos (Oficina do Livro, 2024), de Fábio da Silva, com o consentimento do autor.



