O potencial da inteligência artificial (IA) para transformar o mundo do trabalho está a dominar o discurso empresarial, mas algumas opiniões mantêm-se divididas. Se há quem diga que já estamos no meio de uma onda de despedimentos – que começou nas primeiras semanas de 2024 – outros apontam para o potencial da tecnologia como criador líquido de emprego. Certo é que a própria natureza do trabalho está destinada a mudar significativamente em várias funções.
O mais recente estudo internacional da consultora em recursos humanos LHH mostra que 73% das empresas já estão a realizar ou a considerar alterações à sua estrutura de recursos humanos.
Da gestão de pessoas ao outplacement
As principais conclusões mostram que 36% dos trabalhadores continuam preocupados com a possibilidade de serem despedidos, enquanto 31% consideram mudar de emprego nos próximos 12 meses. A estes, juntam-se mais 26% que declararam que estão a considerar fazê-lo num prazo mais alargado. Já do lado dos responsáveis de recursos humanos, 25% mostram-se preocupados com o esgotamento das equipas de trabalho em resultado dos despedimentos.
Pedro Rocha e Silva, Managing Director da LHH | DBM Portugal, destaca outra das principais conclusões do estudo: a necessidade de haver melhor comunicação e apoios necessários para os colaboradores que estão de saída.
«Tomar medidas para garantir que os colaboradores despedidos estão bem familiarizados com os apoios disponíveis é essencial para manter o seu foco na necessidade de procurar uma nova saída profissional», explica o gestor. E acrescenta: «Isso garante goodwill à empresa e mostra aos colaboradores que existe uma preocupação da empresa em fazer o que entende correto, mesmo em condições difíceis».
O estudo ‘Outplacement and Career Mobility Trends Report 2024’ inquiriu mais de três mil líderes de recursos humanos e oito mil trabalhadores corporate em nove países – quatro dos quais fora da Europa: Estados Unidos, Canadá, Austrália e Brasil.
Historicamente, as mudanças tecnológicas originam despedimentos
Um estudo da Nature no início de 2024 indicava que a tecnologia de automatização representada pelo fabrico e manufatura inteligente estava a ter um impacto significativo no desenvolvimento económico e social.
A investigação indica que o impacto global da IA no emprego é positivo, indicando que esta tecnologia impulsiona o emprego através de mecanismos que promovem o aprofundamento do capital, a divisão do trabalho e o aumento da produtividade. O comércio digital derivado da tecnologia digital e das plataformas da Internet promoveu a transformação da aglomeração industrial e virtual.
Por outro lado, historicamente, as inovações tecnológicas impulsionam o crescimento económico e a expansão do emprego a longo prazo, mas os efeitos de curto e médio prazo criam ondas de desemprego tecnológico. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) avança que os impactos da IA generativa serão relativamente modestos em termos de perdas de emprego globais, mas concentrados em áreas específicas, como as funções de apoio administrativo.
Estas profissões — incluindo atendimento ao cliente, rececionistas e secretariado — já enfrentam declínio há mais de dez anos e agora sentem os primeiros impactos da automação, afetando principalmente mulheres, que estão 2,5 vezes mais expostas ao risco de automação do que os homens.
Globalmente, estima-se que 2,3% dos empregos (75 milhões) estão em risco, com uma proporção maior nos países de alta renda, onde 5,1% das funções (30 milhões de empregos) enfrentam maior exposição devido à natureza dessas ocupações.
Criar as melhores condições possíveis para que as pessoas possam reenquadrar-se no mercado de trabalho, deverá ser, na opinião de Pedro Rocha e Silva, «mais do que um ato de reconhecimento ou agradecimento, ou uma ação de responsabilidade social, deverá ser o evidenciar de uma forte crença que essas práticas sustentadas trazem efetivos benefícios à organização, nomeadamente a nível do seu clima social e capacidade de atração e retenção». Como reforça, «estas práticas passam uma forte mensagem não só aos envolvidos como igualmente aos que ficam!».