Estima-se que o mercado global do desporto feminino cresça de 145 mil milhões de dólares em 2023 para 256,67 mil milhões até 2030.
Nos Estados Unidos, o interesse por basquetebol e futebol feminino cresce rapidamente. No Reino Unido, a cobertura mediática do desporto feminino é mais acessível, com painéis equilibrados e estádios cheios para grandes eventos, sem prejudicar o desporto masculino. No Brasil, o futebol feminino ganha força, com mais investimento e apoio, impulsionado por figuras como Marta Silva.
Com a Suíça a acolher o UEFA Women’s Euro em julho, o entusiasmo tem aumentado. Como sede de mais de 100 federações desportivas internacionais, é o momento de perguntar: o que é necessário para acelerar esta transformação? Rita French, Membro Executivo do Geneva Centre for Security Policy (GCSP), traz algumas respostas num artigo publicado no Fórum Económico Mundial, acrescentando que apenas 15% da cobertura mediática desportiva é dedicada às mulheres.
Em 2023, apenas uma em cada quatro posições de liderança em federações desportivas internacionais era feminina Na base, as raparigas têm o dobro da probabilidade de abandonar o desporto escolar na adolescência. As disparidades salariais no nível profissional continuam significativas.
Porque se revela tão importante a igualdade de género no desporto? Para a ex-embaixadora dos direitos humanos do Reino Unido, a resposta é clara: lutar pela paridade no desporto é não só justo, mas também estratégico. Além dos benefícios físicos e mentais, as competências desenvolvidas no desporto — liderança, trabalho em equipa, autoconfiança e resiliência — são transferíveis para o mundo profissional. Não é por acaso que 94% das mulheres em cargos executivos de topo praticaram desporto na juventude.
Caminhos para a mudança
Para avançar, é essencial tornar o desporto feminino mais visível e viável. Primeiro, é crucial demonstrar que investir na igualdade de género no desporto é rentável. O Fórum Económico Mundial estima que a paridade global levará 123 anos a alcançar e, no desporto, esse prazo pode ser ainda maior. Os argumentos para investir na igualdade económica aplicam-se igualmente ao setor desportivo.
Paralelamente, é necessário desafiar a ideia de que a paridade em oportunidades e investimento é inalcançável porque o desporto feminino atrai menos financiamento e patrocínios. Esta premissa assume uma igualdade de oportunidades que não existe. As equipas masculinas são frequentemente vistas como o produto principal, influenciando decisões sobre investimento, patrocínios, horários e infraestruturas. Este ciclo vicioso — em que o desporto feminino precisa de maior audiência para atrair mais investimento, mas sem investimento é difícil atrair público — deve ser quebrado. Modalidades que superaram este ciclo, como o ténis, estão agora a colher os frutos.
Em terceiro, urge criar um ecossistema desportivo pensado para mulheres, abordando barreiras desde a base até à elite. Isso inclui combater o abandono, lidar com o assédio online e offline, e melhorar infraestruturas e equipamentos, como calçado desportivo específico para mulheres e a substituição de calções brancos por opções mais práticas.
Quarto, a questão da igualdade salarial não pode ser ignorada. Progressos estão a ser feitos: na Austrália, desportos como futebol, críquete e ténis avançam para salários-base iguais, e a seleção feminina de futebol de Espanha recebe agora a mesma percentagem de bónus que a masculina. O ténis, graças a figuras como Billie Jean King, lidera com prémios iguais nos Grand Slams.
Por fim, a liderança é crucial. É necessário envolver organizações com poder para remodelar o panorama desportivo, incluindo federações, patrocinadores, media e parceiros públicos. Na Austrália, esforços focados resultaram em mais progressos na igualdade de género no desporto nos últimos 10 anos do que nos 100 anteriores. As Matildas, seleção feminina de futebol, estão quase a tornar-se a equipa mais popular do país.