A Inteligência Artificial vai destruir empregos? Esta foi a pergunta que abriu o debate ‘Two Sides: New Rules for the Future of Work’, na Leadership Summit Portugal. A resposta dividiu a audiência e marcou o tom de uma conversa sobre dilemas, oportunidades e competências de um tempo de viragem.
Entre Filipe Seixas, Business Development Director do ISQe, e Pedro Campos, Executive Director e Head of Management Consulting da Devoteam, emergiram duas visões complementares: a da tecnologia como motor de transformação e a das pessoas como a sua verdadeira razão de ser. O momento foi moderado por Rita Rugeroni Saldanha, Diretora de Conteúdos da Revista Líder.

A curto e longo prazo, a prudência divide-se com a visão
O primeiro desafio lançado foi claro: como equilibrar a cautela imediata com a necessidade de preparar o futuro? Pedro Campos reconheceu que o ritmo da mudança varia por setor, mas o dilema é transversal. «Há áreas, como a banca e os seguros, em que a transformação é um desígnio de sobrevivência. Nenhuma quer ser a próxima Blockbuster», explica. Outras, como a indústria ou a logística, vivem um compasso mais lento — mas a pressão acabará por chegar.
O segredo, defende, está em ver a Inteligência Artificial não como um fim, mas como um meio para libertar o potencial humano. Recordando a pandemia, sublinhou a capacidade de adaptação das pessoas: «Quem, em março de 2020, mal usava um computador, em abril já trabalhava em videoconferência. A aceleração vai repetir-se.»
Filipe Seixas concordou na urgência de pensar a longo prazo, mas destacou o papel do talento e das power skills como fator decisivo. «O tema não é o risco imediato, mas a consciência organizacional de apostar nas competências certas — adaptabilidade, visão e pensamento crítico», explicou. A IA, defende, deve ser um acelerador das capacidades humanas, não o seu substituto.

IA: ameaça ou oportunidade?
A segunda questão abordou o centro do debate global: a inteligência artificial vai substituir pessoas ou requalificar profissões? Pedro Campos trouxe os números. «O Fórum Económico Mundial prevê a criação de 170 milhões de novos empregos até 2030, mesmo com 92 milhões em risco. O saldo é positivo», diz. O que está em causa «não é destruição, é requalificação». E acrescentou: «A IA é o nosso copiloto. Liberta-nos das tarefas repetitivas e permite-nos concentrar naquilo que é verdadeiramente humano.»
Filipe Seixas comparou o momento atual à Revolução Industrial: «A máquina não eliminou o trabalho — transformou-o.» O desafio, diz, é aprender a liderar equipas onde humanos e agentes de IA coexistem, cada um com um papel específico. «Os líderes terão de gerir equipas híbridas — pessoas e algoritmos sentados à mesma mesa», explica.
Ambos concordam que o risco maior é não acompanhar a mudança. «Quem não domina as novas ferramentas será ultrapassado por quem as usa», alertou Filipe. Para Pedro, a equação é clara: «Para dançar o tango são precisos dois. Se a empresa quer e o colaborador não, não funciona. E o inverso também não.»

O líder do futuro é humano, digital e corajoso
O debate terminou com as competências que definem o líder do futuro. Para Pedro Campos, três são cruciais: literacia digital, espaço para a experimentação e inteligência emocional. «Os líderes têm de permitir erro, aprendizagem e inovação — e devem ser os primeiros a experimentar.» A confiança, diz, é o terreno fértil onde a criatividade floresce.
Filipe Seixas acrescentou o que chama de growth mindset. «O líder precisa de ver oportunidades no erro, de fomentar o pensamento crítico e o contrafactual — perguntar ‘por que não?’ em vez de ‘porquê?’.» E destacou a importância do GRIT — a resiliência sustentada no tempo, a capacidade de continuar quando o obstáculo parece intransponível.
O futuro da liderança, concluiu, será o da liderança de serviço: líderes que não mandam, servem para potenciar. «Um bom líder é o que identifica o que falta à sua equipa para ela ser melhor — e cria as condições para isso», concluiu.
Assista ao momento completo na Líder TV:
Filipe Seixas, Pedro Campos, Rita Rugeroni Saldanha: New Rules for the Future of Work
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