Trabalhar não devia fazer mal à saúde. Mas há muito que os corpos se encolhem nas cadeiras, os olhos se apagam diante de ecrãs, e as cabeças se perdem em reuniões sem fim. Há muito que o trabalho entrou pela pele dentro — e quando a mente cede, nem sempre se ouve o estalo. Ainda há quem ache que resiliência é calar e aguentar. Mas o tempo mudou.
Foi nesse espírito — o de virar a página — que, no passado 19 de maio, a ASM – Aliança Portuguesa para a Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho apresentou a Carta ‘Tempo de Agir – Dar Voz à Saúde Mental no Local de Trabalho’, numa sessão pública com mais de três dezenas de entidades fundadoras, de organismos estatais a empresas privadas.
«A carta é um convite realista e comprometido à ação — porque mais do que falar, é tempo de agir», afirmou Filipa Palha, presidente da ASM, perante um público atento no Centro Local de Lisboa Oriental da Autoridade para as Condições de Trabalho. Ao seu lado, representantes da ACT, da DGS, do INA, da CITE e de empresas como o BPI, a Fidelidade, a Câmara Municipal do Porto ou a PWC selaram o compromisso.
O documento, construído ao longo de seis meses, propõe cinco eixos estratégicos — da redução do estigma à promoção ativa de saúde mental, da avaliação contínua à reabilitação — e metas concretas a cumprir até 2028. Entre elas: incluir a saúde mental nas políticas de recrutamento, formar líderes com literacia emocional, planear o regresso ao trabalho após baixas, ajustar tarefas e ambientes. Tudo adaptado aos recursos de cada organização — mas com exigência.
«Apesar da robustez da evidência, essa prioridade ainda está longe de se refletir na prática. As consequências são visíveis: sofrimento, perda de produtividade, e um custo social insustentável», sublinhou Filipa Palha, reforçando que o compromisso está alinhado com diretrizes internacionais — da OMS à OIT.

A Carta fica agora aberta a novas adesões, num processo contínuo de escuta, partilha e transformação.
Porque trabalhar não pode ser sinónimo de adoecer. E o futuro dos nossos dias úteis — e da nossa saúde — começa aqui.