Num momento em que as empresas operam sob o escrutínio constante de acionistas, reguladores e opinião pública, a eficácia dos conselhos de administração tornou-se um fator crítico de competitividade. As empresas com melhor reputação e maturidade de governance, nos EUA e no Canadá, distinguem-se por práticas de avaliação mais rigorosas, transparentes e diversificadas, que elevam a fasquia para todo o mercado.
Estas são algumas conclusões dos estudos Board Effectiveness in 2025, focado nas empresas do índice TSX30, e Annual State of Board Evaluations in the U.S. 2025, do índice S&P 500, ambos da Korn Ferry. As análises traçam uma radiografia atualizada da governação corporativa, revelando um setor mais atento à responsabilização e ao desempenho estratégico, mas ainda marcado por lacunas estruturais que precisam de ser resolvidas.
A conclusão central? Avaliar já não basta – é preciso transformar e evoluir.
Transparência em alta, mas ação ainda curta
Tanto no Canadá como nos EUA, a quase totalidade das empresas divulga hoje informação sobre o processo de avaliação do conselho. No S&P 500, 98% das empresas detalham o seu processo em documentos públicos, enquanto no TSX30 a avaliação é universal e realizada em três níveis – conselho, comissões e administradores individuais.
Mas permanece uma lacuna crítica: poucas empresas explicam o que mudam na prática. Nos EUA, apenas 18% reportaram alterações concretas após a avaliação (menos do que em anos anteriores).
No Canadá, o número não é muito superior. A ausência de follow-through torna mais difícil perceber o compromisso real com a melhoria contínua.
Avaliações mais profundas e métodos mais variados
Outra tendência verificada este ano foi a de os conselhos diversificarem as suas metodologias. No S&P 500, 60% das empresas usam questionários, mas cresce o recurso a entrevistas e discussões de grupo, sobretudo entre as World’s Most Admired Companies.
No Canadá, os questionários são também o método dominante, mas as entrevistas individuais continuam. subutilizadas – uma oportunidade perdida para captar nuances de comportamento e dinâmica interna.
Ambos os estudos sublinham que a avaliação individual dos administradores é uma tendência crescente: no S&P 500, 55% das empresas já o fazem, um aumento de cinco pontos percentuais face ao ano anterior.
O papel crescente dos avaliadores externos
O recurso a entidades externas tornou-se um indicador de maturidade em governação. No S&P 500, 38% das empresas já utilizam terceiros para apoiar ou conduzir avaliações, com destaque para métodos como entrevistas independentes – usadas por 81 empresas, segundo o gráfico da página 14 do relatório.
Os dados mostram também que os conselhos que recorrem a avaliadores externos confiam mais no processo e agem mais sobre os resultados, tal como evidencia o estudo ao citar que 81% dos administradores consideram as avaliações mais eficazes quando há facilitadores independentes.
O que distingue os líderes globais
As empresas classificadas como World’s Most Admired apresentam práticas mais robustas do que as restantes do S&P 500. Especificamente, usam múltiplos métodos de recolha de feedback (58% vs. 45%). Revelam também mais informação sobre temas avaliados (68% vs. 56%), e recorrem mais a terceiros (42% vs. 33%)
No Canadá, a exigência regulatória e a forte cultura de governance elevam a fasquia: todas as empresas do TSX30 avaliam o desempenho individual, e há uma ênfase clara em competências, composição e transparência.
A conclusão combinada dos dois relatórios é inequívoca: os conselhos mais eficazes são os que tratam a avaliação como um instrumento estratégico, não como uma obrigação formal.
Para onde caminha a governação?
Os dois estudos apontam três prioridades essenciais para 2026:
Mais profundidade nos métodos de avaliação, com entrevistas e feedback alargado à gestão;
Mais independência, através do uso regular de avaliadores externos;
Mais ação e transparência, divulgando não apenas o processo, mas sobretudo as melhorias implementadas.
Em suma, o novo padrão global é este: avaliar melhor para governar melhor.



