Fazer o scrolling constante no seu telemóvel, num consumo e procura de mais e mais más notícias, é um mau hábito que não traz nada de bom (doom). As redes sociais são hoje o veículo por excelência de consumo de notícias, que juntamente com os meios de comunicação, divulgam histórias que suscitam sentimentos de medo, angústia e desamparo.
Os efeitos nocivos de tal exposição a conteúdos “tóxicos”, ou mais negativos, são evidentes contribuindo para um risco elevado de desenvolvimento de perturbações como depressão, ansiedade, solidão, automutilação e suicídio. A Wired aborda o fenómeno doomscrolling que está a tomar proporções nos Estados Unidos da América, onde, em média, um em cada cinco americanos tem acesso às notícias através das redes sociais. Para além disso, neste mundo altamente digitalizado, parece quase impossível, desassociarmo-nos dos nossos avatares e dos dispositivos móveis que levamos connosco para todo o lado.
“Doomscrolling é essencialmente uma técnica de evitação usada para lidar com a ansiedade. Então sempre que estiver numa situação vulnerável, fazer doomscrolling pode tornar-se um mecanismo, pouco saudável, de coping”, diz Megan E. Johnson, psicóloga clinica.
A consultora em RH Kelly revela que o doomscrolling tem tido, cada vez mais, um impacto significativo nos trabalhadores, afetando a sua produtividade e, sobretudo, saúde mental: deixa-os emocionalmente exaustos e até assoberbados, estados esses que acabam por se refletir na quantidade – e sobretudo qualidade – do trabalho.
Para escapar à ‘síndrome’ do scrolling infinito, aqui ficam algumas pistas:
Encontre espaço em situações fora do seu controlo: Aceite que nem tudo está ao seu alcance. É absolutamente normal sentir emoções como tristeza, raiva ou impotência perante as notícias que o chocam. Contudo, importa gerir essas emoções da forma mais eficaz possível. Um bom primeiro passo passa por se questionar a si mesmo “O que posso fazer para mudar esta situação?”. Muitas vezes, a resposta a essa pergunta é “nada”. Por isso, a solução passa por evitar esse envolvimento intenso com aquilo que lê, aceitar essa realidade e libertar-se de qualquer tipo de culpa que possa sentir.
Reprogramar o cérebro: As redes sociais estão desenhadas para se tornarem viciantes. Com isso, acabamos também por nos viciar no consumo de notícias, especialmente as más. Para combater esses impulsos, é preciso estar consciente desse vício e combatê-lo, por exemplo, ao escolher gastar esse mesmo tempo em atividades mais produtivas e, sobretudo, positivas. Seja o filme que guardámos para ver mais tarde, as arrumações que adiamos eternamente, o livro que nunca chegámos a ler. O que importa é que a atividade – em família, com amigos ou simplesmente sozinho – nos afaste dos feeds intermináveis
Definir limites on-line: Na sequência da recomendação anterior, a solução para combater o doomscrolling não passa por se distanciar por completo da realidade digital, mas sim encontrar um equilíbrio entre a vida on-line e offline. Para se manter consciente dessa necessidade, utilize aplicativos de produtividade ou estabeleça horários nos quais se mantém distante do telemóvel (pode até coloca-lo numa gaveta durante uma hora, por exemplo), para que o cérebro consiga ‘respirar’. Pode não parecer, mas a constante conectividade continua a ser um fenómeno relativamente recente e não propriamente saudável.