A filosofia não costuma ter lugar à mesa nas empresas, pelo menos regularmente. Conceitos como a ética podem revelar-se essenciais e existe uma preocupação generalizada com esta questão, ainda que superficial.
Líderes e liderados convergem na perceção de que os líderes evidenciam mais comportamentos que visam comunicar expetativas claras para uma prática ética e, com menos frequência, para apoiar o programa de ética. Os líderes reportam, em média, comportamentos éticos com frequência moderada, enquanto os liderados percecionam essas práticas de forma mais intermitente.
A Católica Porto Business School apresentou os primeiros resultados do Inquérito de Liderança Ética, desenvolvido no âmbito do estudo anual do Fórum de Ética, que celebra este ano o seu 10º aniversário. O inquérito avaliou quatro dimensões fundamentais: demonstrar que a ética é uma prioridade, comunicar expectativas claras para uma prática ética, tomar decisões éticas e apoiar o programa de ética organizacional. Conclui que há ainda um longo caminho a percorrer para que os comportamentos éticos se tornem uma prática sistemática e visível no quotidiano das organizações.
«Mais do que medir, queremos mobilizar. Mais do que avaliar, queremos dar poder de agir,» afirma Helena Gonçalves, coordenadora do Fórum de Ética da Católica Porto Business School. «Se a ética é clara nas palavras, porque é que nem sempre é visível nas práticas? Como podemos tornar a ética mais visível, partilhada e reconhecida nas práticas diárias de liderança?», questiona.
Entre intenção e prática, a ética não está plenamente integrada
Em termos de ‘Demonstração de que a ética é uma prioridade’, os líderes referem que assumem com frequência comportamentos que identificam a ética como uma prioridade e os liderados confirmam. Criar oportunidades para discutir preocupações éticas, bem como incluir expectativas específicas para a prática ética nos planos de desempenho são comportamentos considerados menos frequentes por líderes e liderados.
Já no que diz respeito a ‘Comunicação de expectativas éticas’ ambos reconhecem no líder o esforço consciente para servir de modelo de práticas éticas e clarificar as expetativas em relação à prática. O comportamento menos frequente identificado por ambos é o de abordar desafios que a equipa possa enfrentar, quando se comunicam as expectativas de práticas éticas.
A ética como decisão: práticas assumidas e fragilidades persistentes
Na ‘tomada de decisões éticas’, os líderes consideram frequentes os comportamentos que visam assegurar que não favorecem injustamente uma determinada pessoa ou grupo, bem como o ponderar os efeitos e o impacto nos outros. Ocasionais são os comportamentos de recorrer ao Código de Ética e Conduta para apoiar na decisão ou nomear responsável por destacar considerações éticas.
Na área do ‘Apoio ao programa de ética’, líderes e liderados concordam que os líderes ocasionalmente encorajam os liderados a comunicar irregularidades da organização quando há uma preocupação ética. Ambos estão também de acordo em considerar ocasionais a tomada de medidas para garantir que as atividades de ética são adequadamente financiadas e dotadas de recursos.
O estudo, que decorreu entre 15 de setembro e 30 de outubro, recolheu exemplos concretos de comportamentos que ilustram tanto situações de sucesso como de falha nas quatro dimensões avaliadas. No total envolveu 323 participantes com experiência profissional, dos quais 80% ocupam ou ocuparam funções de liderança, abrangendo diferentes níveis hierárquicos e setores (privado, público e social). A maioria dos respondentes pertence ao setor privado e situa-se na faixa etária dos 46 aos 60 anos.



