A Startup Leiria inaugurou oficialmente o TEAR Alcanena – Tecnologia, Talento, Tradição, Empreendedorismo e Arte, um novo espaço de incubação e aceleração que assinalou um ponto de viragem na estratégia de desenvolvimento do concelho. O projeto nasceu em parceria com a Câmara Municipal de Alcanena e a Nova Medical School da Universidade Nova de Lisboa, com a ambição clara de fixar talento, diversificar a economia local e combater a desertificação do interior.
O TEAR abriu portas com capacidade para 12 startups em regime de cowork e a promessa de dinamizar quatro a cinco eventos por ano. Até 2028, o objetivo traçado foi ambicioso: incubar mais de 50 startups, captar mais de 5 milhões de euros em investimento e gerar mais de 100 postos de trabalho diretos e indiretos.
A primeira iniciativa do novo hub, o Talent Up, arrancou em junho, atraindo jovens empreendedores e recém-graduados da região, num programa de ideação concebido para transformar talento em equipas e negócios viáveis.
Com três décadas de tradição industrial e uma base logística robusta, Alcanena passou a ser palco de um ecossistema empreendedor que cruza tecnologia digital, indústria 4.0, economia circular, agroalimentar e inovação social.
Em entrevista à Líder, Vítor Ferreira, CEO e cofundador da Startup Leiria, deixou clara a visão: «Não gerimos espaços, co-criamos ecossistemas de inovação. Um espaço sem conhecimento, rede, mentoria, investimento, eventos e talento é apenas uma garagem.»
O TEAR nasce com a ambição de incubar 50 startups e gerar 100 empregos até 2028. Que setores ou áreas de negócio considera prioritários para alcançar esse objetivo?
Vamos concentrar-nos onde o território tem tração e onde o mercado cresce: Tecnologias Digitais/Indústria 4.0 — software, IT, automação e serviços B2B (já representam 60% dos projetos analisados); Tecnologia Verde e Economia Circular, com ênfase em processos limpos, valorização de resíduos e novos materiais; Bio/Agroalimentar e saúde digital em nichos com base tecnológica; Inovação social e serviços baseados em conhecimento, com modelos escaláveis; Valorização das cadeias tradicionais (couro/calçado, têxtil, alimentar) via digitalização, sustentabilidade e design, em articulação com o CTIC e empresas âncora locais. Estas apostas refletem o que já estamos a captar e o ADN industrial/logístico de Alcanena. Estas são as vias mais rápidas para transformar 50 startups em mais de 100 empregos qualificados até 2028.
O projeto apresenta-se como motor contra a desertificação do interior. Como se garante que o talento formado no MédioTejo e Ribatejo não migre para Lisboa ou para o estrangeiro?
Com pipeline e destino no próprio território. Pipeline: trabalhamos com o IPSantarém, IPTomar e IPLeiria (Poliempreende, programas de ideação, desafios reais) para captar finalistas e recém-graduados. Destino: oferecemos incubação (física/virtual), mentoria, rede empresarial local e provas de conceito com empresas (ACTON IT, Couro Azul, Intermarché, Iberopasta, Mola Solta, etc.), criando razões concretas para ficar — clientes, faturação e comunidade. Acresce a atração de trabalhadores remotos/híbridos que já procuram o nosso cowork e passam a integrar a rede local. É assim que se fixa talento: reunindo oportunidades de projeto ao mercado e ao sentimento de pertença.
O programa Talent Up arrancou já em junho. Que perfil de jovens empreendedores esperam atrair nesta primeira edição?
O Talent UP arranca a 28 de setembro. Queremos finalistas/recém-graduados e jovens profissionais, de cursos técnicos e superiores, com ou sem ideia, a solo ou em equipa — perfis curiosos, orientados a resolver problemas reais nas áreas digital/indústria 4.0, verde/circular, agro-bio e serviços B2B. O programa é de ideação, muito prático, e está desenhado para transformar talento em equipas e oportunidades incubáveis.
Muitos espaços de incubação no país acabam por ter dificuldade em manter atividade regular. Que garantias têm de que o TEAR não será apenas um espaço vazio após a inauguração?
Não partimos do zero. Já formalizamos vários contratos de incubação (Microvida, Inclui-te, e três projetos IT/serviços), realizamos dezenas de sessões de mentoria e montamos um calendário contínuo de eventos (ETALKS, atividades nas escolas, programas de ideação). Em captação, fizemos centenas de contactos com 35% de conversão e temos parcerias ativas (CTIC, politécnicos, empresas, associações locais). O espaço de cowork tem capacidade para uma dúzia de startups em regime flexível e a procura de trabalhadores remotos/híbridos está a encher as mesas. Tudo isto assenta num protocolo institucional TEAR–Município–Startup Leiria que dá estabilidade ao projeto. Dispomos de equipa no terreno, pipeline, incubados, eventos e rede, o que revela atividade real e mensurável, não uma montra. Existe algo subjacente à realidade da Startup Leiria: nós co-criamos ecossistemas de inovação, não gerimos espaços. Um espaço sem conhecimento, rede, mentoria, investimento, eventos e talento é apenas uma garagem.
Para a população local, que impacto direto terá este hub? Vai criar oportunidades para os jovens locais ou será sobretudo uma montra para atrair projetos de fora?
É para dentro e para fora. Para dentro: mais postos de trabalho qualificados, cowork acessível, programas nas escolas e atividades de literacia empreendedora (ex.: Clube das Ideias, que envolveu cerca de 60 crianças), ligações a empresas locais e mentoria para quem quer lançar um negócio em Alcanena. Para fora: abrimos a porta a projetos externos que tragam tecnologia, clientes e investimento, e que fiquem porque encontram aqui um ecossistema vivo. O impacto mede-se em emprego, faturação das startups, eventos anuais e participação da comunidade.