Os negócios de família são complexos de gerir: há menos imparcialidade, e conflitos e emoções fortes são mais prováveis de surgir. No entanto, mesmo com os seus desafios, as organizações que passam de geração para geração conseguem alcançar o sucesso, tornando-se negócios multimilionários como os casos da Puma e Adidas, o Aldi ou o Ikea.
Numa aula aberta da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto, Jacqueline Hoogerbrugger, administradora não-executiva da Jumbo Netherlands, veio aprofundar a questão dos conflitos em negócios de família, bem como apresentar soluções para os resolver.
“Até agora tem havido um ditado muito comum no que toca a negócios familiares, que é bastante deprimente: a primeira geração constrói o negócio; a segunda geração gere o negócio, sendo que a terceira geração destrói o que foi construído”, comenta Hoogerbrugger. A estatística nos Estados Unidos da América diz-nos que os negócios de família são cada vez mais incomuns, sendo que 40% passa o negócio para a segunda geração, e para a terceira geração apenas 14%.
Ainda assim, para as pessoas que vão ficando no negócio, e à medida que este vai progredindo nas gerações nota-se cada vez mais um crescimento: as gerações mais novas fazem tomadas de decisão mais arriscadas, e beneficiam de uma melhor educação.
No entanto, os conflitos continuam presentes, sendo que neste contexto é difícil as pessoas serem totalmente objetivas. De rivalidades, a inveja ou interesses e valores diferentes, estes fatores podem ser críticos para romper com os laços e, consequentemente, com a organização.
Em último caso, o negócio pode beneficiar disto: uma separação ou venda da organização em que tudo fica estabelecido pode potenciar o futuro negócio, que se encontrara preso até então. Tudo complica se uma das partes quiser continuar com o negócio de família e excluir outros membros, o que vimos já em prática em casos de empresas de sucesso.
Assim, é essencial que no negócio de família se tenha bem estabelecido quem toma as decisões e que haja disciplina. A verdade é que apesar dos conflitos, os negócios de família tornam as pessoas também mais unidas e empenhadas, o que se notou durante a pandemia: “negócios geridos por famílias puseram menos pessoas em lay-off do que outras organizações. O espírito da família está muito presente na organização.”, acrescenta.
Quais são, então, os fatores cruciais para preservar o negócio e o espírito de família para as futuras gerações? O principal fator, afirma Jacqueline, passa por educar desde pequeno a futura geração para estar sensibilizada para o negócio, entender os valores, e ver a organização não só como uma responsabilidade, mas como algo proveitoso e até divertido. O respeito e o amor que vão desenvolvendo ao longo dos anos vai se tornando evidente, e em último caso estarão mais comprometidos com o negócio a longo prazo.
A educação é outro ponto que é decisivo para o envolvimento das futuras gerações e para o próprio crescimento da empresa. Preparar a próxima geração de investidores, nos melhores institutos para que eles possam estar envolvidos no processo mais tarde se assim o desejarem.